Chico Buarque - Chico Buarque (1978)

Esse é o disco mais completo de Chico e, segundo o próprio, uma "salada de frutas", pois mescla músicas que têm histórias bem diferentes entre si. Por exemplo, temas anteriormente censurados ("Cálice", "Apesar de Você" e "Tanto Mar"), cantados por mulheres ("O Meu Amor"), duetos ("Pedaço de Mim"), novos ("Feijoada Completa" e "Trocando em Miúdos"), em espanhol ("Pequeña Serenata Diurna") e modinhas ("Até o Fim"). De fato, o autor, nessa fase, estava mais maduro e compondo muito bem, com a qualidade que o levaria a ser um dos maiores compositores do Brasil.

Abrindo a obra, temos "Feijoada Completa", um samba com letra carregada e que conta como se faz uma feijoada, feita pela mulher do eu-lírico. Na letra, diz: "joga o paio / carne seca, toucinho no caldeirão / e vamos botar água no feijão". A próxima faixa, "Cálice", feita em parceria com Gilberto Gil e cantada junto de Milton Nascimento, é com certeza o primeiro ponto alto do disco. Com a excelente ideia de dizer "cale-se" em forma de "cálice", a música se fez um marco da luta contra a ditadura e um dos temas mais conhecidos do artista.

A terceira música, "Trocando em Miúdos", tem um ritmo lento e é meio triste. Na sua letra, temos: "eu vou lhe deixar na medida do Bonfim / não me valeu / mas fico com o disco do Pixinguinha sim / o resto é seu". É uma canção que tem seu charme e poética muito bem feita, mostrando seu valor nessa grande obra. "O Meu Amor", que mais parece uma música do Roberto Carlos, é cantada por Elba Ramalho. Até hoje, é de grande popularidade, tanto na versão original quanto ao vivo, nos shows de Chico.

"Homenagem ao Malandro" fecha o lado A do LP. Nela, o rapaz diz ter saudade dos antigos malandros cariocas, que hoje em dia trabalham e não ficam mais à toa. "eu fui à Lapa e perdi a viagem / que aquela tal malandragem não existe mais", diz na letra. Abrindo o lado B, "Até o Fim", uma modinha bem charmosa que foi regravada por Ney Matogrosso, fala sobre alguém que nasceu torto e continua sendo "falho" por toda a vida.

"Pedaço de Mim", cantada junto de Zizi Possi, é triste e fala de perdas familiares. Era a canção preferida da mãe de Cazuza e, com certeza, de quem já perdeu alguém muito importante em sua vida. "Pivete", um samba bem agitado, diz "no sinal fechado / ele vende chiclete / capricha na flanela / e se chama Pelé". "Pequeña Serenata Diurna", de Silvio Rodriguez, é cantada em espanhol e, do disco, é a menos conhecida. Para mim, tanto faz ela estar presente ou não, porque me parece uma canção mediana, nem muito boa e nem muito ruim.

"Tanto Mar", feita para a Revolução dos Cravos de Portugal, em 1974, foi originalmente censurada. Agora, com nova letra e arranjos, fez muito sucesso e, com certeza, soma para a qualidade da obra. Fechando o disco, temos "Apesar de Você", de 1971, um clássico atemporal do poeta. "Hoje você é quem manda, falou tá falado, não tem discussão", diz na letra. E, dessa forma, acaba o melhor álbum de Chico e, com certeza, um dos melhores da MPB.

• Avaliação: A+