Edu Lobo - Camaleão (1978)
Lançado em 1978, em meio ao então cenário efervescente da MPB |
Bom, eu, já na primeira audição, fiquei impressionado com tudo. Com as letras, as melodias, os arranjos, o "clima" do álbum, entre outras coisas. Da segunda audição em diante, fui me familiarizando mais ainda com a obra, percebendo nuances que ainda não tinha notado e "sentindo" mais o álbum. Agora, depois de umas cinco ouvidas, tenho certeza de que é uma jóia rara e merecia todo o mérito que não tem. Sério, cadê as músicas desse disco sendo reverenciadas? Cadê os críticos dizendo que o álbum é um trabalho esplêndido? Tirando "Lero-Lero" (a faixa que abre o álbum), o resto do disco praticamente todo é desconhecido.
Mas, tirando as injustiças de lado, uma das primeiras coisas que me vieram à cabeça foi a semelhança desse álbum com o de Chico Buarque do mesmo ano (e olha que pra eu colocar um álbum na mesma importância de um álbum do Chico (meu compositor favorito), tem que ser uma obra-prima mesmo). Se parecem nas seguintes características: a alternância entre temas animados e tristes, o conceito do álbum, o número de canções autorais (lembrando que "Pequeña Senerata Diurna", do álbum do Chico, é de composição do cubano Silvio Rodriguez) e até a capa (vamos combinar, se Edu estivesse de frente sorrindo e com uma samambaia atrás, ficariam bem parecidas). A semelhança também se reflete na poética, já que letras como "Descompassado" e "Memórias de Marta Saré", de Edu, poderiam facilmente terem sido assinadas pelo Chico.
Agora, sobre as canções. Delas, destaco "Lero-Lero", um samba com melodia estilo "Feijoada Completa". Faz uso de jogo de palavras numa letra em que o compositor se auto-define (Edu Lobo é conhecido como um parceiro musical difícil, pois é muito perfeccionista e implica muito com versos dos outros). Isso se faz presente nos versos que ponho em negrito da seguinte estrofe:
"Eu sou poeta e não nego a minha raça
Faço versos por pirraça e também por precisão
De pé quebrado, verso branco, rima rica
Negaceio, dou a dica, tenho a minha solução"
"O Trenzinho do Caipira" é uma letra de Ferreira Gullar para uma melodia do Heitor Villa-Lobos (Bachiana Brasileira Número 2). A interpretação de Edu é bem intimista e o ritmo lento. Parece aquelas canções de ninar bem métricas e grudentas (e lindas).
O compositor usa elementos de jazz no álbum |
A linda e melancólica "Descompassado" começa com essa linda letra:
"Maré bravia
Lá onde o vento assovia
Meu coração principia
A ser escravo do amor
Acorrentado
Num pé-de-vento vadio
Caindo em todo desvão
Entrando em todo desvio"
Nessa faixa, novamente, arranjos de sax e aquele clima de fim de festa. Sério, a gente se sente sentado no fundo de um bar novaiorquino, fumando um cigarro e ouvindo a banda de jazz tocando com um crooner.
"Memórias de Marta Saré" fecha o disco magistralmente. A frase "pra dentro, Marta Saré" ecoa no nosso ouvido repetidamente, parecendo um mantra. Quando a música acaba, o som ainda fica na nossa cabeça em modo contínuo. Edu consegue ser especial mais uma vez, provando o seu imenso talento a quem quiser ouvir.
Ah, e eu não poderia deixar de citar o nome do Cacaso, compositor que foi parceiro de Edu em nada menos do que seis canções desse álbum. Não sei com precisão quais partes das músicas cada um fez, se um fez a letra e outro a melodia, enfim. Quem souber dessas informações, favor comentar nesse post, que eu adiciono ao texto depois.
E, assim, termino essa revisão de um dos álbuns que mais me impressionaram recentemente. Minha recomendação é que você escute esse disco com um bom whisky do lado, fechando os olhos e curtindo cada detalhe dessa celebração da boa música. Vai ser, sem dúvidas, uma experiência única.
Na verdade, o Edu Lobo fez as melodias e o Cacaso, que era poeta, fez as letras.
ResponderExcluirObrigado pela informação!! Em breve editarei o texto.
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