Raul Seixas - Krig-ha, Bandolo! (1973)
Raulzito... sim, era assim que Raul Seixas se apresentava quando tentou a fama no fim dos anos 1960, junto com o grupo Raulzito e os Panteras. O disco que eles lançaram é bem interessante, mas não conseguiu vender bem e nem ter uma boa opinião da crítica. Raul fez uma segunda tentativa na vida artística com o mítico Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez, de 1971, mais uma vez falhando. Hoje em dia, o álbum é bastante cultuado e raro de se encontrar, num efeito parecido com o que ocorreu com o primeiro álbum de Zé Ramalho com Lula Côrtes, Paêbirú.
Foi só em 1973 que Raul alcançou a fama, com o disco sensacional Krig-ha, Bandolo!, que emplacou diversos hits nas rádios da época e que ajudou ele a se tornar o artista brasileiro que mais fez sucesso cantando rock nos anos 1970 (um posto que disputa com Rita Lee). Raul conseguiu fazer uma obra forte, com um certo humor e grande valor poético.
Confesso que não sou muito fã da forma que o álbum se inicia, com a confusa "Good Rockin' Tonight". A música original é muito boa (um blues de Roy Brown), mas a forma com que se apresenta nesse álbum nunca me cativou. A voz do Raul parece estar sendo gravada por um gravador de muita má qualidade ou tocada num rádio com mal sinal. Realmente não entendo por que o álbum inicia assim.
O primeiro sinal de que o álbum é muito bom é a bem humorada "Mosca na Sopa". Quem nunca foi atordoado por uma mosca insistente? Então, Raul pega essa situação e faz uma bela letra. Pra quem gosta de pegar sentidos mais profundos em letras, ela pode significar que "mosca" seja o cantor que faz sucesso e diz o que quer em suas letras, ou até mesmo quem protestava contra a ditadura em suas músicas (como Chico Buarque, Caetano Veloso...). Enfim, interprete-a como bem queira.
O álbum começa a ter um lado mais profundo com a genial "Metamorfose Ambulante", que ecoa "eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo", uma mensagem forte que lembra algumas máximas do Renato Russo. É impossível achar quem não se identifique com a letra, afinal, todos nós somos metamorfoses ambulantes. O que somos em uma semana já muda na outra, pois mudamos de gosto, opinião... Outra parte interessante dessa música é quando a voz dele sobe de tom dizendo "sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei quem sou", que chega a arrepiar o ouvinte.
"As Minas do Rei Salomão" é bem interessante e linda, na qual Raul chama por uma moça que um dia ele presenteou, vejam só, com um colar de um sábio faraó. Raul parece zombar de Dom Quixote, resumindo que ele "luta a vida inteira contra o rei" e fica por isso. Porém, a parte com que mais me identifico é "do passado me esqueci, no presente me perdi, se chamarem digam que eu saí". A melodia é um tanto rockabilly, remetendo aos anos 1950, e um tanto parecida com as dos Beatles no álbum For Sale.
"Al Capone" cita ícones do passado como o próprio Al Capone, Júlio César e Lampião, alertando-os contra os seus respectivos fins (Júlio César sendo assassinado no senado e Lampião tendo a cabeça cortada). Também dá conselhos para Jimi Hendrix fazer o mesmo que Frank Sinatra e Jesus Cristo abandonar o Pai.
Fechando o disco, temos talvez a melhor música de todas do Raul, a muito profunda "Ouro de Tolo". Nela notamos que o homem, quando alcança seu objetivo, nunca fica satisfeito e está sempre à procura de algo que o excite. Afinal, nossa vida é movida a sonhos. Reflete também a vida de Raul na época, quando era um respeitado produtor da CBS, mas não queria a vida que tinha, querendo ser famoso e revolucionar a música brasileira. E conseguiu. "Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar" deixa claro o espírito irrequieto de Raul.
Termino essa review dizendo que, pra mim, esse disco é um dos melhores dos anos 1970, uma década marcada pela pluralidade de estilos. Raul Seixas nunca conseguiu se expressar tão bem quanto nessa obra, que com certeza permanece importante até os dias de hoje.
Foi só em 1973 que Raul alcançou a fama, com o disco sensacional Krig-ha, Bandolo!, que emplacou diversos hits nas rádios da época e que ajudou ele a se tornar o artista brasileiro que mais fez sucesso cantando rock nos anos 1970 (um posto que disputa com Rita Lee). Raul conseguiu fazer uma obra forte, com um certo humor e grande valor poético.
Confesso que não sou muito fã da forma que o álbum se inicia, com a confusa "Good Rockin' Tonight". A música original é muito boa (um blues de Roy Brown), mas a forma com que se apresenta nesse álbum nunca me cativou. A voz do Raul parece estar sendo gravada por um gravador de muita má qualidade ou tocada num rádio com mal sinal. Realmente não entendo por que o álbum inicia assim.
O primeiro sinal de que o álbum é muito bom é a bem humorada "Mosca na Sopa". Quem nunca foi atordoado por uma mosca insistente? Então, Raul pega essa situação e faz uma bela letra. Pra quem gosta de pegar sentidos mais profundos em letras, ela pode significar que "mosca" seja o cantor que faz sucesso e diz o que quer em suas letras, ou até mesmo quem protestava contra a ditadura em suas músicas (como Chico Buarque, Caetano Veloso...). Enfim, interprete-a como bem queira.
O álbum começa a ter um lado mais profundo com a genial "Metamorfose Ambulante", que ecoa "eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo", uma mensagem forte que lembra algumas máximas do Renato Russo. É impossível achar quem não se identifique com a letra, afinal, todos nós somos metamorfoses ambulantes. O que somos em uma semana já muda na outra, pois mudamos de gosto, opinião... Outra parte interessante dessa música é quando a voz dele sobe de tom dizendo "sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei quem sou", que chega a arrepiar o ouvinte.
"As Minas do Rei Salomão" é bem interessante e linda, na qual Raul chama por uma moça que um dia ele presenteou, vejam só, com um colar de um sábio faraó. Raul parece zombar de Dom Quixote, resumindo que ele "luta a vida inteira contra o rei" e fica por isso. Porém, a parte com que mais me identifico é "do passado me esqueci, no presente me perdi, se chamarem digam que eu saí". A melodia é um tanto rockabilly, remetendo aos anos 1950, e um tanto parecida com as dos Beatles no álbum For Sale.
"Al Capone" cita ícones do passado como o próprio Al Capone, Júlio César e Lampião, alertando-os contra os seus respectivos fins (Júlio César sendo assassinado no senado e Lampião tendo a cabeça cortada). Também dá conselhos para Jimi Hendrix fazer o mesmo que Frank Sinatra e Jesus Cristo abandonar o Pai.
Fechando o disco, temos talvez a melhor música de todas do Raul, a muito profunda "Ouro de Tolo". Nela notamos que o homem, quando alcança seu objetivo, nunca fica satisfeito e está sempre à procura de algo que o excite. Afinal, nossa vida é movida a sonhos. Reflete também a vida de Raul na época, quando era um respeitado produtor da CBS, mas não queria a vida que tinha, querendo ser famoso e revolucionar a música brasileira. E conseguiu. "Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar" deixa claro o espírito irrequieto de Raul.
Termino essa review dizendo que, pra mim, esse disco é um dos melhores dos anos 1970, uma década marcada pela pluralidade de estilos. Raul Seixas nunca conseguiu se expressar tão bem quanto nessa obra, que com certeza permanece importante até os dias de hoje.
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