Chico Buarque
Francisco Buarque de Hollanda é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. A sua profunda inspiração melódica (que encontra quase sempre um encaixe perfeito com suas elaboradas letras), o fez ter uma carreira exitosa por quase seis décadas.
Primeiros anos (1944 a 1965)
Nascido no Rio de Janeiro e criado em São Paulo, Chico teve desde criança uma grande influência de Noel Rosa, Pixinguinha e, mais tarde, João Gilberto. Sua primeira composição, "Luz dos Olhos" (de 1959), já mostrava nuances de sua genialidade.
Mas foi somente com "Marcha para um Dia de Sol", de 1964, que Chico descobriu o seu estilo característico.
De "Tem Mais Samba" (canção considerada pelo próprio artista como o "marco zero" de sua obra) ao seu disco em italiano, Chico era um árduo compositor que, por ocasião, se tornou também intérprete. Durante o Festival Record da Canção de 1966, ele defendeu "A Banda" junto de Nara Leão e, por insistência do diretor, subiu ao palco para cantar a canção. Foi aí que o grande público conheceu a voz do garoto, que logo mais seria difundida Brasil afora no seu primeiro álbum, Chico Buarque de Hollanda, de 1966. Contendo 12 músicas, algumas recordáveis como "A Rita", "Ela e sua Janela", "Pedro Pedreiro" e "Olê Olá", outras sem expressão, como "Você Não Ouviu" e "Juca". Por essa época, alguns singles foram produzidos. Ainda no mesmo ano, lançou o irrelevante Morte e Vida Severina, com instrumentações sem inspiração dos textos de João Cabral de Melo Neto.
Em 67, veio um novo LP, com o mesmo título do primeiro, mas sendo o volume dois. O disco é irmão do anterior, contendo "Noite dos Mascarados", "Com Açúcar, Com Afeto", "Fica" e "Quem te viu, Quem te vê". O lado B é quase dispensável, a menos que você seja muito fã do artista e queira o conhecer por completo. Nesse ano, também lançou um compacto especial de natal para a imobiliária Clineu Rocha, tendo como refrão "tão bom, tão bom, tão bom que foi o Natal, ai quem me dera fosse todo ano igual", com letra e melodia grudantes, tendo a mesma fórmula de "A Banda". Chico ficou zangado após ela ter tocado nas rádios, pois era uma gravação não-comercial feita apenas para a empresa. No mesmo ano, também houve a sua participação na trilha sonora do filme Garota de Ipanema e o lançamento de um compacto contendo "Onde É Que Você Estava?", "Umas e Outras", "Benvinda" e "Até Pensei".
Em 1968, veio o volume 3, mostrando uma evidente melhora artística do compositor, tendo "Ela Desatinou", "Retrato em Branco e Preto", "Januária", "Carolina" e "Roda Viva" como temas excelentes. Do lado B, apenas "Sem Fantasia" se salva, mas ouça também "O Velho" e "Funeral de um Lavrador" se tiver muito apreço pelo artista. Os seus álbuns de 1969, regravações de seus sucessos em italiano, são razoáveis, mas hoje se fazem irrelevantes. A menos que você tenha vínculos com a Itália ou queira experimentar algo novo, não há porque ter esses disse há como ouvir os originais em português.
Nesse mesmo ano, lançou compacto contendo "Bom Tempo" e as já lançadas "Pedro Pedreiro", "Sonho de um Carnaval" e "Sem Fantasia". Chico também escreve a peça "Roda Viva", censurada pouco depois de sua estreia. Em meio a vaias ardentes, "Sabiá", de sua autoria com Tom Jobim, se fez a vencedora do III Festival Internacional da Canção. A má recepção foi devido à sua temática, que não falava da realidade do Brasil da Época, apesar de ser lindíssima. Contudo, eu acho que falava sim do exílio, pois contém versos como "vou voltar, sei que ainda vou voltar para o meu lugar, foi lá, é ainda lá que eu hei de ouvir cantar uma sabiá".
Um pouco antes de sua volta da Itália, nasce um novo compositor. Gravando partes na Europa e o resto no Brasil, finalmente chega às lojas Chico Buarque de Hollanda N° 4, cujo resultado até hoje confunde o próprio artista. Bom, enquanto ele não morre de amores pelo disco, eu o acho formidável. Apesar de ter uma quantidade bem menor de hits (basicamente "Gente Humilde", "Pois É" e "Essa Moça Tá Diferente"), a obra no geral é bem interessante. Nele, Chico rompe com sua poética de antes, como se mostra evidente em "Agora Falando Sério":
Agora falando sério
Eu queria não cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta
Dou um chute no lirismo
Um pega no cachorro
E um tiro no sabiá
Dou um fora no violino
Faço a mala e corro
Pra não ver a banda passar
Eu queria não cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta
Dou um chute no lirismo
Um pega no cachorro
E um tiro no sabiá
Dou um fora no violino
Faço a mala e corro
Pra não ver a banda passar
Só para nota sobre os versos acima: "sabiá" se refere a uma música sua com Tom Jobim de 1968 e "ver a banda passar" é parte da letra de "A Banda". Chico realmente "chutou" o lirismo de antes e se mostrava disposto a fazer uma obra mais séria, o que só veio a se concretizar em Construção, de 1971. O álbum, até hoje em dia um marco não só do artista mas da MPB como um todo, é fascinante do início ao fim. Contando com "Deus Lhe Pague", "Cotidiano", "Desalento", "Construção", "Cordão", "Olha Maria", "Samba de Orly", "Valsinha", "Minha História" e "Acalanto", o disco mantém um padrão de qualidade único por meia-hora (sim, a obra dura exatos 31:10).
O gênio compositor das trilhas sonoras e das músicas soltas (1972 a 1975)
Devido à censura, várias de suas canções da primeira metade dos anos 70 não puderam ser lançadas, fazendo com que o cantor não lançasse discos com músicas inéditas até 1976, exceto pelas trilhas sonoras e a inclusão de "Acorda Amor" no seu álbum de 1974 (como tendo sido composta por Julinho da Adelaide, seu pseudônimo, para escapar da censura), sendo esse apenas com músicas de outros artistas.
De Quando o Carnaval Chegar, de 1972, destaco "Mambembe", "Baioque", a faixa-título e "Partido Alto". Em Vai Trabalhar, Vagabundo, de 1973, Chico marca presença com as atemporais "Flor da Idade" e a faixa-título. De Chico Canta (1973), trilha sonora da peça Calabar, destacam-se "Cala a Boca, Bárbara", "Tatuagem", "´Bárbara", "Não Existe Pecado ao Sul do Equador" e "Fado Tropical." No mesmo ano, lançou "Jorge Maravilha", um hino que, reza a lenda (negada pelo próprio), de que era endereçada à filha do general Médici.
Em Sinal Fechado, que, como já disse, foi um álbum com músicas de outros compositores, tem como principais "Festa Imodesta" (Caetano Veloso), "Filosofia" (Noel Rosa), "O Filho Que Eu Quero Ter" (Toquinho/Vinicius de Moraes), "Acorda Amor" (Julinho da Adelaide, pseudônimo de Chico), "Lígia" (Tom Jobim), "Sem Compromisso" (Nelson Trigueiro/Geraldo Pereira) e "Sinal Fechado" (Paulinho da Viola).
A fase de ouro (1976 a 1979)
Durante essa época, Chico Buarque se consagrou como um dos maiores expoentes não só da música brasileira, mas também do mundo. Se antes ainda tinham alguma dúvida se ele iria manter a qualidade, se não seria aquele tipo de artista que aparece e depois some, agora sabiam que ele seria lembrado sempre.
Para início de conversa, Chico lançou, em 1976 e 1978, dois álbuns dos quais não se perdem uma sequer música. São obras-primas da MPB do início ao fim e surpreendem o ouvinte a cada audição. Se tivessem somente metade de sua qualidade, ainda seriam discos relevantes.
O primeiro deles nasceu nos meados da década, quando Chico teve contato com algumas melodias criadas por Francis Hime. Ele as achou fascinantes e pediu para pôr letra em cima. O resultado foi que três delas ficaram com o resultado de seu agrado e foram "A Noiva da Cidade", "Passaredo" e "Meu Caro Amigo". Pegando um tema já utilizado no passado, "Vai Trabalhar, Vagabundo" e uma versão de "O Que Será" (haviam três, a do filme, "À Flor da Pele" e "À Flor da Terra", sendo a última a versão presente no álbum), fechou as canções do disco.
A obra foi chamada de Meus Caros Amigos e se trata de, talvez, o seu melhor álbum. Só não disse com certeza pois acho que ele disputa muito bem com o seu seguinte, mas iremos falar nele depois. A capa se trata de uma foto em um daqueles rolos de fita de antigamente. Em cima, está escrito o nome do disco e do artista. Das músicas, fora as que já falei, também se fazem presentes "Mulheres de Atenas", "Olhos nos Olhos", "Você Vai Me Seguir", "Corrente" e "Basta um Dia". Como já disse, nenhuma é ruim e, na sua maioria, são excelentes.
O álbum que segue, com a novidade da retirada de seu bigode, é Chico Buarque, de 1978. Também conhecido pelo nome da primeira música, "Feijoada Completa", esse disco é mais uma compilação do que um álbum de inéditas. Para começar, temos três músicas que haviam sido censuradas ("Cálice", "Tanto Mar" e "Apesar de Você"). Depois, temos uma interpretação ("Pequeña Serenata Diurna", de Silvio Rodriguez), uma cantada por outra artista ("O Meu Amor", interpretada por Elba Ramalho) e outra usada numa peça ("Homenagem ao Malandro"). As restantes são "Trocando em Miúdos", "Até o Fim", "Pedaço de Mim" (em dueto com Zizi Possi) e "Pivete".
Num balanço, esses dois discos representam uma nova modalidade de MPB, a "Chicólatra". As suas músicas têm a sua marca e mesclam influências trovadorescas e greco-romanas (como em Mulheres de Atenas). Enquanto Caetano gravava músicas em inglês e tinha influências modernas, Chico parecia querer criar uma atmosfera mais ligada à cultura antiga. É como se as canções tivessem uma marca, e isso se faz presente nos temas da época.
Em 1979, foi lançada a trilha sonora da peça Ópera do Malandro, das quais podemos ver presentes clássicos como "O Malandro", "Hino de Duran", "Viver do Amor", "Teresinha" (um tema inspirado na cantiga de roda "Teresinha de Jesus"), e a anteriormente lançada "Homenagem ao Malandro". Na capa, o tradicional malandro carioca deitado num banco, provavelmente depois de uma bebedeira.
O alternativo (1980 e 1981)
Com Vida, o compositor dá início a outra fase de sua carreira. O álbum, com algumas faixas dispensáveis, mostra evidente uma mudança de rumo. Com algumas canções lentas e sem sal, ao lado de grandes temas como "Bastidores" e "Bye Bye Brasil", ainda consegue se manter no patamar de excelente. Como destaque, além das já citadas, temos a faixa-título, "Mar e Lua", "Deixe a Menina", "Eu Te Amo", "De Todas as Maneiras" e "Morena de Angola". Talvez o motivo de alguns temas não terem sido sucessos seja o ritmo em que são tocados. Quem sabe, se fossem executados com mais rapidez, tivessem se tornado hits.
O álbum seguinte, Almanaque, é um disco excelente, tendo como destaques "As Vitrines", "Ela é Dançarina", "O Meu Guri", "Almanaque", "Tanto Amar" e "Amor Barato". O meu gosto por "A Voz do Dono e o Dono da Voz" é puro fanatismo (meu e do cantor Tom Custódio). Ela é uma música com melodia divertida, mas com uma razão meio boba: a mudança de gravadora do compositor. Para quem não sabe do tema que ela trata, a letra pode parecer até meio nonsense.
(I) Ainda em forma, (II) falta de inspiração e (III) descanso (1982 a 1992)
(I) Em 1983, Chico, junto com Edu Lobo, lança a trilha sonora de O Grande Circo Místico. Nele, vários cantores interpretam suas canções. No ano seguinte, lança Chico Buarque, um disco excelente dos quais se destacam temas como "Pelas Tabelas", "Brejo da Cruz", "Samba do Grande Amor", "Suburbano Coração", "Mil Perdões" e "Vai Passar". Não sei quando "Dueto" foi composta, mas há uma versão em vídeo de Chico com Nara Leão e que data de 1984.
(II) Dois anos depois, Chico e Caetano fazem um programa na Globo, que contou com a participação de Legião Urbana, Cazuza e Paralamas, entre outros. Em 1987, Francisco, um álbum medíocre, é lançado. Dele, se destacam "O Velho Francisco" e "Cantando no Toró". No ano seguinte, junto com Edu Lobo, produziu Dança da Meia-Lua.
Do seu próximo disco, Chico Buarque, destacam-se "Morro Dois Irmãos", "O Futebol" e "A Mais Bonita", sendo essa última cantada por Bebel Gilberto. Essa obra e a anterior se diferem muito da produção de suas fases passadas. São basicamente compostas músicas parecidas e com os mesmos arranjos, num ritmo lento e tedioso, tornando cansativa a audição. Se você não for grande fã de Chico, ouça somente as que eu sugeri.
(III) De 1990 a 1992, Chico não lança nada, nos que seriam, desde o início de sua carreira, os seus anos de maior ostracismo, nos quais ele se voltou especialmente à sua vida caseira e à escrita de Estorvo, seu segundo livro, lançado em 1991. Depois do lançamento do seu próximo disco, esses períodos de reclusão seriam ainda mais constantes, transformando Chico num compositor ocasional.
(I) Retorno aclamado e (II) lançamentos ocasionais (1993 à atualidade)
(I) Com Paratodos, de 1993, Chico volta às paradas de sucesso e parece disposto a realmente fazer um trabalho de qualidade. Do disco, nenhuma canção se perde e, algumas, se não fizeram sucesso, com arranjos melhores e ritmo mais animado, fariam. Desse disco, destacam-se a faixa-título, "De Volta ao Samba", "Futuros Amantes", "Biscate", "Piano da Mangueira", a regravação de "Pivete" e "A Foto da Capa".
(II) De As Cidades, destacam-se "Carioca", "Iracema Voou", "Injuriado" e "Chão de Esmeraldas". De resto, é um álbum de músicas lentas e tediosas, com letras bem trabalhadas. Realmente, se não fosse pela poética, eu daria uma nota bem mais baixa a esse trabalho que, melodicamente, tem pouquíssima inspiração.
Em seu disco Carioca, de 2006, mostra canções memoráveis como "Subúrbio", "Ode aos Ratos", "Dura na Queda", "Ela Faz Cinema" e "Renata Maria" (em parceria com Ivan Lins).
Com Chico, de 2011, o compositor mostra uma poética mais acessível e bonita, deixando as palavras difíceis de lado e colocando os sentimentos para fora da forma mais natural possível. Do álbum, todas as músicas são lindas e dignas de nota, mas destaco "Querido Diário", "Essa Pequena", "Tipo um Baião" (homenagem a Luiz Gonzaga), "Sou Eu" (em parceria com Ivan Lins) e "Se Ela Soubesse". Extremamente criativo e com arranjos bem feitos, com certeza é um dos melhores discos do artista e da nova década.
De Quando o Carnaval Chegar, de 1972, destaco "Mambembe", "Baioque", a faixa-título e "Partido Alto". Em Vai Trabalhar, Vagabundo, de 1973, Chico marca presença com as atemporais "Flor da Idade" e a faixa-título. De Chico Canta (1973), trilha sonora da peça Calabar, destacam-se "Cala a Boca, Bárbara", "Tatuagem", "´Bárbara", "Não Existe Pecado ao Sul do Equador" e "Fado Tropical." No mesmo ano, lançou "Jorge Maravilha", um hino que, reza a lenda (negada pelo próprio), de que era endereçada à filha do general Médici.
Em Sinal Fechado, que, como já disse, foi um álbum com músicas de outros compositores, tem como principais "Festa Imodesta" (Caetano Veloso), "Filosofia" (Noel Rosa), "O Filho Que Eu Quero Ter" (Toquinho/Vinicius de Moraes), "Acorda Amor" (Julinho da Adelaide, pseudônimo de Chico), "Lígia" (Tom Jobim), "Sem Compromisso" (Nelson Trigueiro/Geraldo Pereira) e "Sinal Fechado" (Paulinho da Viola).
Durante essa época, Chico Buarque se consagrou como um dos maiores expoentes não só da música brasileira, mas também do mundo. Se antes ainda tinham alguma dúvida se ele iria manter a qualidade, se não seria aquele tipo de artista que aparece e depois some, agora sabiam que ele seria lembrado sempre.
Para início de conversa, Chico lançou, em 1976 e 1978, dois álbuns dos quais não se perdem uma sequer música. São obras-primas da MPB do início ao fim e surpreendem o ouvinte a cada audição. Se tivessem somente metade de sua qualidade, ainda seriam discos relevantes.
O primeiro deles nasceu nos meados da década, quando Chico teve contato com algumas melodias criadas por Francis Hime. Ele as achou fascinantes e pediu para pôr letra em cima. O resultado foi que três delas ficaram com o resultado de seu agrado e foram "A Noiva da Cidade", "Passaredo" e "Meu Caro Amigo". Pegando um tema já utilizado no passado, "Vai Trabalhar, Vagabundo" e uma versão de "O Que Será" (haviam três, a do filme, "À Flor da Pele" e "À Flor da Terra", sendo a última a versão presente no álbum), fechou as canções do disco.
A obra foi chamada de Meus Caros Amigos e se trata de, talvez, o seu melhor álbum. Só não disse com certeza pois acho que ele disputa muito bem com o seu seguinte, mas iremos falar nele depois. A capa se trata de uma foto em um daqueles rolos de fita de antigamente. Em cima, está escrito o nome do disco e do artista. Das músicas, fora as que já falei, também se fazem presentes "Mulheres de Atenas", "Olhos nos Olhos", "Você Vai Me Seguir", "Corrente" e "Basta um Dia". Como já disse, nenhuma é ruim e, na sua maioria, são excelentes.
O álbum que segue, com a novidade da retirada de seu bigode, é Chico Buarque, de 1978. Também conhecido pelo nome da primeira música, "Feijoada Completa", esse disco é mais uma compilação do que um álbum de inéditas. Para começar, temos três músicas que haviam sido censuradas ("Cálice", "Tanto Mar" e "Apesar de Você"). Depois, temos uma interpretação ("Pequeña Serenata Diurna", de Silvio Rodriguez), uma cantada por outra artista ("O Meu Amor", interpretada por Elba Ramalho) e outra usada numa peça ("Homenagem ao Malandro"). As restantes são "Trocando em Miúdos", "Até o Fim", "Pedaço de Mim" (em dueto com Zizi Possi) e "Pivete".
Num balanço, esses dois discos representam uma nova modalidade de MPB, a "Chicólatra". As suas músicas têm a sua marca e mesclam influências trovadorescas e greco-romanas (como em Mulheres de Atenas). Enquanto Caetano gravava músicas em inglês e tinha influências modernas, Chico parecia querer criar uma atmosfera mais ligada à cultura antiga. É como se as canções tivessem uma marca, e isso se faz presente nos temas da época.
Em 1979, foi lançada a trilha sonora da peça Ópera do Malandro, das quais podemos ver presentes clássicos como "O Malandro", "Hino de Duran", "Viver do Amor", "Teresinha" (um tema inspirado na cantiga de roda "Teresinha de Jesus"), e a anteriormente lançada "Homenagem ao Malandro". Na capa, o tradicional malandro carioca deitado num banco, provavelmente depois de uma bebedeira.
Com Vida, o compositor dá início a outra fase de sua carreira. O álbum, com algumas faixas dispensáveis, mostra evidente uma mudança de rumo. Com algumas canções lentas e sem sal, ao lado de grandes temas como "Bastidores" e "Bye Bye Brasil", ainda consegue se manter no patamar de excelente. Como destaque, além das já citadas, temos a faixa-título, "Mar e Lua", "Deixe a Menina", "Eu Te Amo", "De Todas as Maneiras" e "Morena de Angola". Talvez o motivo de alguns temas não terem sido sucessos seja o ritmo em que são tocados. Quem sabe, se fossem executados com mais rapidez, tivessem se tornado hits.
O álbum seguinte, Almanaque, é um disco excelente, tendo como destaques "As Vitrines", "Ela é Dançarina", "O Meu Guri", "Almanaque", "Tanto Amar" e "Amor Barato". O meu gosto por "A Voz do Dono e o Dono da Voz" é puro fanatismo (meu e do cantor Tom Custódio). Ela é uma música com melodia divertida, mas com uma razão meio boba: a mudança de gravadora do compositor. Para quem não sabe do tema que ela trata, a letra pode parecer até meio nonsense.
(I) Em 1983, Chico, junto com Edu Lobo, lança a trilha sonora de O Grande Circo Místico. Nele, vários cantores interpretam suas canções. No ano seguinte, lança Chico Buarque, um disco excelente dos quais se destacam temas como "Pelas Tabelas", "Brejo da Cruz", "Samba do Grande Amor", "Suburbano Coração", "Mil Perdões" e "Vai Passar". Não sei quando "Dueto" foi composta, mas há uma versão em vídeo de Chico com Nara Leão e que data de 1984.
(II) Dois anos depois, Chico e Caetano fazem um programa na Globo, que contou com a participação de Legião Urbana, Cazuza e Paralamas, entre outros. Em 1987, Francisco, um álbum medíocre, é lançado. Dele, se destacam "O Velho Francisco" e "Cantando no Toró". No ano seguinte, junto com Edu Lobo, produziu Dança da Meia-Lua.
Do seu próximo disco, Chico Buarque, destacam-se "Morro Dois Irmãos", "O Futebol" e "A Mais Bonita", sendo essa última cantada por Bebel Gilberto. Essa obra e a anterior se diferem muito da produção de suas fases passadas. São basicamente compostas músicas parecidas e com os mesmos arranjos, num ritmo lento e tedioso, tornando cansativa a audição. Se você não for grande fã de Chico, ouça somente as que eu sugeri.
(III) De 1990 a 1992, Chico não lança nada, nos que seriam, desde o início de sua carreira, os seus anos de maior ostracismo, nos quais ele se voltou especialmente à sua vida caseira e à escrita de Estorvo, seu segundo livro, lançado em 1991. Depois do lançamento do seu próximo disco, esses períodos de reclusão seriam ainda mais constantes, transformando Chico num compositor ocasional.
(I) Retorno aclamado e (II) lançamentos ocasionais (1993 à atualidade)
(I) Com Paratodos, de 1993, Chico volta às paradas de sucesso e parece disposto a realmente fazer um trabalho de qualidade. Do disco, nenhuma canção se perde e, algumas, se não fizeram sucesso, com arranjos melhores e ritmo mais animado, fariam. Desse disco, destacam-se a faixa-título, "De Volta ao Samba", "Futuros Amantes", "Biscate", "Piano da Mangueira", a regravação de "Pivete" e "A Foto da Capa".
(II) De As Cidades, destacam-se "Carioca", "Iracema Voou", "Injuriado" e "Chão de Esmeraldas". De resto, é um álbum de músicas lentas e tediosas, com letras bem trabalhadas. Realmente, se não fosse pela poética, eu daria uma nota bem mais baixa a esse trabalho que, melodicamente, tem pouquíssima inspiração.
Em seu disco Carioca, de 2006, mostra canções memoráveis como "Subúrbio", "Ode aos Ratos", "Dura na Queda", "Ela Faz Cinema" e "Renata Maria" (em parceria com Ivan Lins).
Com Chico, de 2011, o compositor mostra uma poética mais acessível e bonita, deixando as palavras difíceis de lado e colocando os sentimentos para fora da forma mais natural possível. Do álbum, todas as músicas são lindas e dignas de nota, mas destaco "Querido Diário", "Essa Pequena", "Tipo um Baião" (homenagem a Luiz Gonzaga), "Sou Eu" (em parceria com Ivan Lins) e "Se Ela Soubesse". Extremamente criativo e com arranjos bem feitos, com certeza é um dos melhores discos do artista e da nova década.
Caravanas, de 2017, trouxe uma bela surpresa: a incrível faixa-título. Contando com uma melodia que alude o estilo de "Geni e o Zepelim", Chico nos mostra porque continua sendo um grande compositor. Na letra, o autor faz uma crítica ao preconceito que alguns da elite carioca têm com os mais humildes. "Tem que bater, tem que matar, engrossa a gritaria / Filha do medo, a raiva é mãe da covardia" talvez seja a melhor parte da letra.
Do resto de Caravanas, destaco "Tua Cantiga" e "Massarandupió". Temos também uma releitura de "Dueto" (que originalmente foi gravada nos anos 1980 com Nara Leão), agora com a participação de sua neta, Clara. Na nova letra, Chico evoca modernidades da Internet, tais como o Facebook, Instagram...
Em 2022, Chico lançou a música "Que tal um Samba?", que contou com a participação do ilustre Hamilton de Holanda.
Post sensacional. É divertido analisar as carreiras de alguns artistas pegando partes específicas e escrevendo algo sobre.
ResponderExcluirValeu, velho! Verdade, tentei pegar tudo de importante de cada fase. Sei que ainda faltam algumas, que vou fazer nos próximos dias.
ExcluirEnfim, concluí o artigo.
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