Legião Urbana - Dois (1986)

Cada disco da Legião Urbana é um retrato diferente da poesia sempre genial de Renato Russo. Dependendo do seu estado de espírito, temos letras mais tristes (como as do disco A Tempestade), mais profundas (como em As Quatro Estações) e "agridoces" (como no disco V).

Se o álbum de estreia mostra uma banda ainda se descobrindo em meio às influências britânicas de Renato (Beatles, Smiths, etc), esse segundo trabalho mostra uma consolidação magistral. Nota-se um grande avanço em termos de letras, melodias, arranjos...

"Daniel na Cova dos Leões", com sua letra difícil de entender, marca presença com seu riff poderoso (que lembra a introdução de "Ainda é Cedo"). Jocosamente, o baterista da banda, Marcelo Bonfá, comentou com Renato na gravação: "não tenho ideia do que fala essa letra, só sei que é boa".

"Quase sem Querer" é o segundo destaque que faço. Uma música "gostosinha" de ouvir, com alto astral e poesia descompromissada. Na letra, o poeta Renato brinca: "sei que às vezes uso palavras repetidas" e logo depois justifica: "mas quais são as palavras que nunca são ditas?".

A quilométrica letra de "Eduardo e Mônica" mostra uma inclinação de Renato a fazer, aqui e ali, músicas longas (mais tarde seriam lançadas "Faroeste Caboclo" e "Metal Contra as Nuvens", com a mesma fórmula). Os tantos versos sobre a paixão de uma moça por um adolescente até hoje conquistam os ouvidos da galera (inclusive os meus).

"Tempo Perdido" é a cereja do bolo desse disco. Quem não aumenta o som quando essa música toca no rádio? Renato aqui usa a fórmula: melodia triste + letra positiva. A poesia é cheia de máximas: "todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo", "a tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos" e "o que foi prometido, ninguém prometeu". Sublime.

Para fechar a minha análise, temos "Índios". Eu confesso que prefiro a versão acústica lançada anos depois, mas essa versão é excelente também. Chamam a atenção o riff crescente que parece nunca acabar e a letra complexa, que fala tanto sobre a interação dos índios com os portugueses, quanto sobre o amor de uma forma geral. É um belo final para um excelente disco.

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