Legião Urbana - A Tempestade (1996)

Com a produção um tanto inferior comparada às dos três álbuns anteriores, A Tempestade é um álbum que foi feito com Renato já debilitado e a sua fase de pessimismo fica evidente nas letras de canções como "Natália". Por isso, quando for ouvir essa obra, não espere que seja um som pra cima ou de alegria, pois é justamente o contrário, é um disco reflexivo e com letras geralmente tristes. Aliás, esse é o único disco da banda em que eu prefiro as letras às melodias e arranjos.

Começando com "Natália", um rock pessimista, diz "vamos falar de pesticidas e de tragédias radioativas / de doenças incuráveis, vamos falar de sua vida". Pelo meio, diz "a felicidade é uma mentira". Estava claro que Renato se encontrava emocionalmente abalado pela doença e certeza de morte próxima. A música termina dizendo "quem sabe um dia eu escrevo uma canção pra você".

A charmosa "L´avventura", diz "quem pensa por si mesmo é livre / e ser livre é coisa muito séria", numa crítica ao alienados. "Eu sei porque você fugiu, mas não consigo entender", dispara pelo meio da música. O ritmo lento pode enfadar alguns, mas, a mim, não causou tédio, talvez porque goste de canções assim, reflexivas e bonitas.

"Música de Trabalho", uma música de climax, fala sobre o que o próprio título indica: o trabalho. Não é das canções mais bonitas, mas é passável. Em seguida, "Longe do meu Lado", mais uma música com ritmo lento e com grandes reflexões na letra, dizendo "se a paixão fosse realmente um bálsamo / o mundo não pareceria tão equivocado".

"A Via Láctea", talvez a canção de mais sucesso do álbum, é basicamente a voz de Renato, um órgão de fundo e a bateria. É uma música para se relaxar e pensar, com passagens como "queria ser como os outros e rir das desgraças da vida / ou fingir estar sempre bem / ver a leveza das coisas com humor".

A próximo faixa, "Música Ambiente", tem, finalmente, um ritmo animado e uma letra pra cima. "Mesmo que tenhamos planejado um caminho diferente / tenho mais do que eu preciso / estar contigo é o bastante", diz nela. Com certeza, é uma música que você deve conferir, principalmente se estiver querendo conhecer melhor a banda.

"Aloha" diz "todo adulto tem inveja dos mais jovens". Sinceramente, essa música não se destaca no álbum e, apesar de seu ritmo legal, não tem muitos atrativos que a façam interessante. E, finalmente, chegamos a "Soul Parsifal", ou "Celeste", que tem uma versão muito conhecida em dueto com Marisa Monte. Talvez essa seja a melhor música do álbum e sua introdução e término são lindos. Na sua letra, temos: "porque foi calma a tempestade / e tua lembrança, a estrela a me guiar / da alfazema fiz um bordado / vem, meu amor, é hora de acordar".

"Dezesseis", um rock n´ roll que mais parece uma música do início da banda, é bem animada e não se parece nada com as outras canções do álbum. "João Roberto era o maioral / o nosso Johnny era um cara legal / ele tinha um Opala metálico azul / era o rei dos pegas na Asa Sul e em todo lugar". Infelizmente, no final, o rapaz morre, aos dezesseis anos.

A triste "Mil Pedaços", retoma o clima de fossa do álbum. "eu não me perdi / e mesmo assim você me abandonou / você quis partir e eu agora estou sozinho / mas você vai se acostumar com o silêncio em casa / com um prato só na mesa". Se não estiver a fim de refletir e, às vezes, ficar triste, não ouça essa música.

A partir da próxima faixa, "Leila", o álbum começa a soar repetitivo, mas, mesmo assim, sua poesia é de bastante qualidade. "1o de julhona sua letra, diz: "não penso em me vingar, não sou assim / a tua insegurança era por mim". Parece uma canção de Cazuza, principalmente as do início de sua carreira.

"Esperando por Mim", que tem uma guitarra deliciosa, diz "o tempo todo estou tentando me defender / digam o que disserem, o mal do século é a solidão". Do lado B, essa é uma das melhores músicas, com ritmo bacana e bom acompanhamento. "Quando Você Voltar", uma balada romântica simplesmente linda, contribui bastante pra qualidade do álbum.

E, enfim, temos "O Livro dos Dias", que, apesar de sua mensagem confusa, termina a obra em grande estilo, nem tão melancólico e nem tão agitado. "Ausente o encanto antes cultivado, percebo o mecanismo indiferente / que teima em resgatar sem confiança / a essência do delito então sagrado", diz sua letra. E, assim, termina esse disco, que foi o último da banda na presença de Renato e que até hoje é um dos preferidos dos fãs da banda.


  • Avaliação: B+

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