Chico Buarque - Francisco (1987)

"Hoje é dia de visita / vem aí meu grande amor / ela vem toda de brinco, vem todo domingo, tem cheiro de flor" canta Chico na primeira canção do álbum, "O Velho Francisco", que conta a história de um ex-escravo. Nesse disco, o autor faz literatura em música, sendo esse o maior atrativo da obra, que nos mostra um compositor mais maduro e cuidadoso.

"As Minhas Meninas" tem arranjos que nos remetem a Tom Jobim. Na melodia, parece-se com aquelas canções secundárias de seus primeiros discos, só que com letras melhores. "As minhas meninas pra onde é que elas vão se já saem sozinhas?", indaga o compositor. No jogo de palavras, repete-se muito a letra "m", numa poesia um tanto caetânica.

"Uma Menina" talvez ficasse mais interessante se fosse tocada em um ritmo mais rápido e com arranjos inovadores, mas mesmo assim, é uma canção a se conferir. Ah, uma curiosidade dessa obra é que ela tem três capas, dessa forma, coloquei a que achei mais bonita para ilustrar o artigo. A partir de "Estação Derradeira", dá a impressão de que estamos ouvindo a mesma música desde a segunda faixa. É que o ritmo é o mesmo, os arranjos parecidos e o canto de Chico alterna entre altos e baixos pouco interessantes.

Hehe, que disquinho medíocre eu fiz pra vocês
"Bancarrota Blues", em parceria com Edu Lobo, dá um caráter mais charmoso à obra, cantando "uma fazenda com casarão, imensa varanda / dá jerimum dá muito mamão, pé de jacarandá / eu posso vender, quanto você dá?". "Ludo Real", feita junto de Vinícius Cantuária, torna o ritmo mais lento e um tanto tedioso. O fato interessante dela é ter um refrão, que diz "Ê, ê, ê andaia a lua ê, a lua ê andaia", coisa rara nessa fase de Chico.

Cristóvão Bastos ajuda o compositor em "Todo o Sentimento", mais uma canção sem sal e executada em ritmo lentíssimo, sendo muito arrastada. "Lola", um tema bonitinho e charmoso, dá uma melhorada no clima do álbum, tendo arranjos bem bolados. "Cadê você (Leila XIV)", outra música medíocre, diz "Me dê noticia de você / eu gosto um pouco de chorar / a gente quase não se vê / me deu vontade de lembrar".

A faixa "Cantando no Toró" fecha o álbum muito bem e é bem animada. Apesar de ser samba, parece com algumas músicas do disco New Morning, de Bob Dylan. Como conclusão, temos que, se você não for extremamente fã de Chico, não precisa comprar esse álbum, apenas ouvir "O Velho Francisco" e "Cantando no Toró" no YouTube.

  • Avaliação: C

Comentários

  1. Fiz um mestrado em Música em que pesquisei esse disco do Chico. Em especial, debrucei-me sobre "Todo o sentimento", que você diz ser "sem sal". Olha, trata-se de uma canção não "arrastada", mas tocada em rubato e gravada ao vivo, com Chico e Cristóvão interpretando a música ao mesmo tempo. A canção tem nuances discursivas muitíssimo interessantes e mostra (não apenas ela mas várias outras canções da obra de Chico) uma consciência musical como poucos, possivelmente por seu envolvimento com a literatura. O "drible" no acento ritmo-melódico ao final da parte A, por exemplo, atrasando a articulação melódica do gesto que pretende repor o corpo sentimental, conjugando acentos melódico e prosódico, dão uma ideia da consciência e domínio do material cancional por parte do intérprete. Enfim, estamos a tratar de um autor robusto cuja obra não pode ser lida de modo incauto.

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  2. "Todo o sentimento" sem sal? Canção gravada entre outros por Selma Reis, Ney Matogrosso e sucesso na voz de Verônica Sabino, indo parar na trilha sonora de Vale Tudo... Voce precisa rever seus conceitos...

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