Meus compositores favoritos (parte 1)

Olá, leitores! Bem, estou fazendo uma nova série de posts, chamada "Meus Compositores Favoritos", onde vou elencar e comentar sobre a carreira musical dos meus artistas preferidos. Nessa revisão, começo com Paul McCartney e Chico Buarque. Espero que gostem do texto. Abraços.



  • Paul McCartney

Macca, como é também chamado pelos fãs, é o artista mais interessante que já conheci. Seja como Beatle, Wing ou na carreira solo, Paul foi esplêndido em tudo o que fez. Sua obra é marcada pela imensa qualidade melódica, lírica e de arranjos. Multi-instrumentista, canhoto e vegetariano, sempre foi coerente com suas ideologias (como o protecionismo de animais) e levantou a bandeira da paz (em canções como “Pipes of Peace”).

Fez sua primeira composição, “I Lost My Little Girl”, em 1956, quando contava com 13/14 anos. Mais tarde, conheceu John Lennon, líder de uma banda chamada Quarrymen, de Liverpool. Fizeram algumas gravações caseiras e passaram algum período sem baterista, dizendo que o ritmo estava nas guitarras. Pouco tempo depois de George ter entrado na banda, Paul compôs “In Spite of All the Danger”, primeira música “importante” de sua carreira.

Com o estouro dos Beatles, em 1964, o nome e a face de Paul ficaram conhecidos ao redor do mundo. Tornou-se uma estrela. Como parceiro musical de John (apesar de, em grande parte das vezes, tenham composto separadamente), fez alguns dos hinos da primeira fase dos Beatles, como “I Saw Her Standing There”, “All My Loving” e “And I Love Her”. Nessa época, namorava uma ruiva chamada Jane Asher e guardava uma canção que tinha composto em um sonho (que depois viria a se tornar “Yesterday”).

Na fase de transição da banda, marcada pelos álbuns Rubber Soul e Revolver, Paul contribuiu significativamente. Sem ele, essa fase teria sido completamente diferente, perdendo muito em sua qualidade. Músicas como “Drive My Car”, “Eleanor Rigby” e “For No One” não teriam existido, além das linhas de baixo bem criativas das músicas de Lennon e Harrison.

Paul, na minha opinião, era o melhor melodista da banda. Muitos apontam John como o melhor letrista, mas não gostaria de compará-lo com seu parceiro de músicas. Os dois eram diferentes, cada um gênio à sua maneira e simplesmente únicos. Até o George, apesar de ter composto menos músicas para a banda, era genial. Por causa dos três, os Beatles se tornaram a banda mais bem sucedida do mundo e, na minha visão, inimitáveis.

Na fase final da banda, temos “Hey Jude”, “Let It Be” e “The Long and Winding Road” de sua autoria. Brigas internas e divergências musicais fizeram os quatro Beatles se separarem em 1970. Paul entrou em depressão e se segurou em sua esposa, Linda, para enfrentar essa fase sombria. Lançou um disco mediano, chamado McCartney, no qual tocou todos os instrumentos, mas só emplacou “Maybe I’m Amazed” como sucesso.

O sucesso de público e crítica só viria com seu segundo álbum, RAM. Porém, Paul ainda sentia falta de fazer parte de uma banda. Foi então que formou os Wings, um grupo que contava, além dele, com sua esposa e o guitarrista Denny Laine. Com eles, emplacou hits como “My Love”, “Let ‘Em In” e “Silly Love Songs”. Nesse mesmo período, produziu álbuns excelentes como “Band on the Run”, “Venus and Mars” e “At the Speed of Sound”, fazendo dos Wings uma das principais bandas pop do período e fazendo uma turnê nos EUA muito bem recebida (que gerou um álbum ao vivo), em 1976.

No início dos anos 80, a prisão de Paul no Japão fez com que ele acabasse com a banda. Ao longo da década, fez parcerias musicais com Stevie Wonder, Michael Jackson e Elvis Costello. Entre os destaques desse período, estão “Ebony and Ivory”, “Say Say Say” e “My Brave Face”. Porém, com exceção dos álbuns Tug of War e Flowers in the Dirt, não foi tão bem recebido pela crítica. Essa década divide opiniões de seus fãs e muitos concordam que o metálico Press to Play seja seu pior álbum.

Paul, atualmente, vive em turnê constante pelo mundo, apresentando algumas seleções de sua vasta obra. Tive o prazer de vê-lo em duas ocasiões, no Rio de Janeiro em 2011 e na minha cidade natal, Fortaleza, em 2013. Foram momentos incríveis e que me marcaram profundamente. Por esses motivos, coloco esse músico como o primeiro da minha lista.


  • Chico Buarque


Ainda me lembro quando, por volta de 2001, mamãe comprou umas coletâneas do Chico e passou a ouvir no carro. Fiquei fascinado com obras como “João e Maria” e “Cotidiano”. Porém, ainda não era tão chegado no artista. Em 2007, quando o vi pela primeira vez ao vivo, pesquisei na internet algumas músicas e me impressionei com “A Banda” e “Dueto”. Ouvindo seu primeiro disco, de 1966, descobri vários sambas criativos que me incentivaram a começar a compor.

Porém, foi só por volta de 2010 que disse: tenho que conhecer a obra do Chico. Esperava ouvir mais 
sambas como os de 1966, mas fui incrivelmente surpreendido. Fui apresentado a uma complexa, linda e encantadora obra, da qual não encontro paralelo nem na música nacional ou internacional. Chico Buarque é o melhor letrista que já passou pelo planeta Terra e, como melodista, só perde pro Paul McCartney. Foi duro decidir qual eu colocaria em primeiro nessa lista, mas resolvi tender pro lado da minha paixão musical mais antiga.

Já postei aqui no blog uma extensa análise de sua grande carreira. Por isso, pretendo ser sucinto nessa revisão. Começando em 1959, quando o menino Chico compôs “Canção dos Olhos” (que o próprio renega) ou, oficialmente, alguns anos mais tarde, com “Marcha para um Dia de Sol”, estava dando início à sua jornada. Compôs “Pedro Pedreiro” em 1965 e pretendia participar, um ano depois, com sua canção “Morena dos Olhos d’Água”, de um festival. Na última hora, resolveu concorrer cantando outra música, “A Banda”. Foi a primeira obra do compositor a ter reconhecimento nacional de público e crítica.

Então, vieram os primeiros discos, os Chico Buarque de Hollanda volumes 1, 2 e 3. Sambas “bossa-novistas” excelentes, que o fizeram ficar conhecido como um jovem que cantava músicas conservadoras de extrema qualidade. Enquanto os tropicalistas faziam um som moderno, Chico apostava na fórmula antiga e se dava muito bem. Se tivesse (Deus me livre), morrido em 1969, já teria para sempre seu nome marcado para sempre na história da MPB, mas a história não terminou por aí.

Com seu autoexílio na Itália, Chico resolveu romper com tudo que já tinha feito. Seu disco Chico Buarque de Hollanda Volume 4 vinha recheado de pistas sobre esse momento, como quando diz, em “Agora Falando Sério”, que “Eu queria não cantar a cantiga bonita que se acredita que o mal espanta. Dou um chute no lirismo, um pega no cachorro e um tiro no sabiá. Dou um fora no violino, faço a mala e corro pra não ver a banda passar”. Estava claro que ele se referia ao seu antigo estilo de compor, citando músicas como “Sabiá” e “A Banda”.

Mas a mudança só veio a se confirmar com o espetacular disco Construção, de 1971. Nele, Chico usou de melodias melancólicas e letras afiadas para fazer uma reinvenção na sua carreira. Os frutos dessa mudança podem ser vistos em seus discos posteriores, como Calabar (ou Chico Canta), de 1973, Meus Caros Amigos, de 1976, e Chico Buarque, de 1978. Aliás, considero os dois últimos citados como os melhores discos já produzidos em território brasileiro.

A censura pegou bastante no pé do Chico (e também de vários outros artistas), durante o início da década de 1970. Por causa da repressão, o compositor usou o pseudônimo de “Julinho da Adelaide” para assinar algumas canções (como “Jorge Maravilha”). O disco Sinal Fechado, por exemplo, somente conta com músicas de outros compositores (com exceção de “Acorda, Amor”).

A genialidade de Chico somente é expressa da sua forma mais completa e exitosa no álbum Meus Caros Amigos, de 1976. Praticamente todas as músicas do álbum são excelentes, até algumas obscuras como “A Noiva da Cidade”. Contando com algumas parcerias e produção de Francis Hime, usando de instrumentos de sopro e piano como arranjos, consegue ser impecável do início ao fim, além de permanecer importante até os dias de hoje. É uma experiência sem comparação ouvir esse álbum.

Não menos especial do que o álbum anterior, seu disco Chico Buarque, de 1978, conta com músicas outrora censuradas (como “Cálice”, “Tanto Mar” e “Apesar de Você”), além de temas novos. Chico aparece trovadoresco e sentimental (com temas chorados como “Trocando em Miúdos” e “Pedaço de Mim”), além de flertar com o humor (com a divertida “Até o Fim”) e com a música cubana (com “Pequeña Serenata Diurna”, de Silvio Rodriguez). O compositor consegue ser erudito e popular, falando de temas ora abrangentes, ora pessoais.

E, então, veio a fase alternativa do início dos anos oitenta, com os também excelentes Vida e Almanaque. Sempre comparo essa fase do Chico com uma do Bob Dylan (aquela de álbuns como Nashville Skyline e New Morning). Essas fases têm em comum que os dois eram artistas consagrados quando passaram por elas, e ainda conseguiram lançar conteúdo de qualidade.
Vida, de 1980, é interessantíssimo! Conseguiu emplacar “Deixe a Menina”, “Eu Te Amo” e “Bye Bye Brasil”, além de conter temas que ficaram conhecidos por outras vozes. Almanaque vai na mesma linha, tendo as bonitas “As Vitrines”, “O Meu Guri” e “Tanto Amar”.

Chico Buarque (de 1984), marca o fim de uma era. Aqui, Chico Buarque deixa de ser uma lenda viva para virar um excelente compositor. Emplaca “Pelas Tabelas”, “Samba do Grande Amor” e “Vai Passar”. Com Francisco, de 1987, é evidente que o artista tinha perdido fôlego, mas penso que temos que agradecer por ter durado tanto essa imensa criatividade que aflorou em seu cérebro.
Daqui pra frente, eu destaco os álbuns Paratodos, de 1993, As Cidades, de 1998 e Carioca, de 2006. 

Fechando essa revisão, acho que tenho a dizer que, se porventura você não conhecer a obra de Chico, faça isso o mais rápido possível. Vai ser uma experiência transformadora e bastante prazerosa. Acredite, eu já ouvi muitos discos. Aliás, o que mais faço é ouvir discos. E eu lhe digo: os do Chico são diferenciados. Há uma poética, um cheiro de trovadorismo e uma história agregada em muitas de suas canções, além de construções harmônicas e estruturas melódicas de qualidade incomparável. É, sem dúvidas, um artista incrível.

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