Discografia comentada: Caetano Veloso

Domingo - 1967
A influência da bossa nova é evidente nesse primeiro trabalho de Caetano. As canções, em sua maioria de ritmo lento e com bonitas letras, têm arranjos básicos e são muito bem cantados pelo artista e Gal Costa. Das canções, destaco "Coração Vagabundo", "Onde eu nasci passa um rio" e "Remelexo". Se você for um fã de João Gilberto, ouça também a melódica "Avarandado", regravada pelo mestre da bossa nova.





Caetano Veloso - 1967
Aqui se inicia realmente o Caetano revolucionário, com canções modernas e de uma poética até então inexistente, vindo a influenciar uma grande gama de artistas, principalmente do underground setentista (Sérgio Sampaio, Carlinhos Vergueiro, Walter Franco, etc.). Começando com a atemporal "Tropicália", que viria a dar o nome do movimento depois montado por Caetano e Gilberto Gil. "Clarice" parece remeter ao álbum anterior, com seu ritmo lento. Fora essas, destaco "Alegria Alegria", "Onde Andarás" (com poesia de Ferreira Gullar), "Clara" e "Soy Loco Por Ti America".


Tropicália - 1968
Esse é o disco da qualidade: dele, não se perde nenhuma música e cada minuto do álbum exala criatividade e inovação. Certo, eles meio que queriam imitar a atmosfera de Sgt. Pepper's [A+], dos Beatles, mas então qualquer obra conceitual feita depois dessa vai soar como imitação? É claro que não, é algo totalmente novo, com letras e arranjos originais. Do disco, não posso destacar nenhuma canção, porque todas são boas. Então, eu apenas digo para o amigo leitor: ouça Tropicália do início ao fim, pois é uma experiência formidável.


Caetano Veloso - 1969
A música livre de Caetano foi se maturando desde seu primeiro disco até que, em 1969, alcançou uma forma própria, que duraria até Transa, de 1972. A capa, simples e contendo apenas a assinatura do cantor, se faz um dos mais bonitos de sua carreira. Das canções, destaco "Irene", "Não Identificado" e "Carolina", sendo essa última do Chico Buarque. Ah, se quiser ouvir um peido do maestro Rogério Duprat, ouça "Acrílico".






Caetano Veloso - 1971
Um incrível álbum com fortes melodias e o experimentalismo natural de Caetano. Usa-se diversas vezes a intertextualidade, como quando a canção "Marinheiro Só" aparece na música "If You Hold a Stone". "Maria Bethânia", endereçada à irmã do artista, parece mostrar que o cantor está com muita saudade da sua terra, encontrando-se em exílio. Todas as músicas dessa obra são boas, mas eu destaco, para quem não quiser ouvir o álbum inteiro, "London London" e "In The Hot Sun of a Christmas Day".




Transa - 1972
Wow! Finalmente, chegamos no Transa, do qual vários comentam como sendo o "melhor disco já lançado por Caetano"! Sim, caro leitor, chegamos no tal álbum e, pra ser sincero, não morri de amores pelas canções do disco quando as escutei pela primeira vez. Talvez o meu ouvido, na época (2011) não estivesse preparado para escutar o tal artista e seus sons criativos. Hoje, sinto-me maduro o suficiente para fazer uma análise mais próxima do que a obra merece. De fato, é uma grande mescla de melodias e ritmos, mas um pouco mais melancólico do que o disco anterior (que tem músicas pra cima). É como Construção, do Chico, pelo qual muitos morrem de amores, que é mais sombrio do que seu anterior. No álbum de Caetano, tudo parece ser parecido e ousado, com temas na mesma "sintonia". Das canções, destaco "You Don't Know Me" e "It's a Long Way".

Araçá Azul - 1973
Os únicos bons momentos desse disco são a faixa de abertura e "Tu me Acostumbrate". São as únicas músicas que realmente têm alguma beleza. De resto, vemos um Caetano totalmente nonsense, fazendo música experimental "nada a ver". Sinceramente, eu não recomendo esse álbum a ninguém, até porque é uma batalha pesada o ouvir até o fim.
Jóia - 1975
Letras mal feitas, arranjos básicos, melodias pouco chamativas e muita chatice. Só ouça se você for muito fã de Caetano. Na minha impressão, ele deve ter se achado um gênio por ter tantas canções que fizeram sucesso e, assim, quis fazer um trabalho que o mostrasse como ele realmente é, sem ter intervenções importantes de arranjadores ou cuidado com o resultado final. De jóia, só tem o nome. Recomendações de músicas: "Canto de um Povo de um Lugar", "Na Asa do Vento" e "Escapulário".


Qualquer Coisa - 1975
Nessa época de poesia estranha da parte de Caetano, o melhor dos discos são as regravações e, nesse, temos três músicas dos Beatles, uma do Chico, outra do José Messias, Jorge Ben, Ernesto Grenet e também de Chabuca Granda. Mas, temos aqui uma obra melhor do que a anterior, pois tem a bonita "Qualquer Coisa", que Roberto Carlos inclusive disse que queria a ter composto. Também faz parte do disco a "A Tua Presença Morena", de melodia bem interessante. No final, a curta "Nicinha" também se faz presente, com letra das melhores dessa fase do artista.


Bicho - 1977
A volta da qualidade nos trabalhos de Caetano. Aqui, temos os clássicos "Odara", "Tigresa" e "O Leãozinho", mas todas as músicas do álbum são boas. A animada "Gente", a filosófica "O Índio" e, pra fechar, "Alguém Cantando", fazem do trabalho uma verdadeira obra de arte.







Muitos Carnavais - 1977
Uma compilação surpreendente, onde Caetano se mostra cuidadoso e extremamente criativo. Músicas com ritmo de carnaval e muita alegria. De todas as canções, não consigo destacar as melhores, porque todas têm seu charme. Minha dica é simplesmente: ouça!







Muito - 1978
Aqui, Caetano pareceu estar disposto a fazer realmente um trabalho bem feito, com arranjos bacanas, boas melodias e letras com mais sentido do que as que vinha fazendo. Do álbum, destaco a atemporal "Sampa", que fez um tremendo sucesso quando foi lançada e que permanece como uma das músicas mais conhecidas do compositor. A faixa-título e "Terra" também merecem serem ouvidas pelo leitor. Se for um fã de Caetano, recomendo o álbum inteiro.
Cinema Transcendental - 1979
Simplesmente o melhor álbum de Caetano, onde sua obra parece ter ficado mais refinada e bem trabalhada, com letras realmente fortes e melodias, nem se fala: são lindas. Sim, vamos lá, até a desconhecida "Os Meninos Dançam" tem a sua beleza. E mais, quem nunca ouviu "Oração ao Tempo" na regravação de Maria Gadú? Então, duvido que sabiam que é desse compositor e que está presente nesse álbum. Pois é, aliás, além dela, estão presentes "Lua de São Jorge", "Beleza Pura" (regravada pelo Skank), "Menino do Rio" e "Cajuína". O resto, são canções de um clima legal e que, sinceramente, são superiores até às de seu álbum de 1971.

Comentários

  1. Você pode achar o que quiser mas, seu comentário sobre Araça Azul é preconceituoso e superficial, revelando que seu gosto musical é baseado no óbvio.

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    1. Ana, acho que Caetano é muito maior do que o que é apresentado em Araçá Azul, tanto que esse disco foi devolvido, na época de seu lançamento, por diversas pessoas que o compraram. Não consegui ver sentido algum na obra, até apresentei pra uma amiga (fã de Caetano como eu) pra ver se eu estava sendo injusto, e ela também disse que não conseguiu ouvir até o final. Você acha letras como Gilberto Misterioso bem feitas? Eu entendo a proposta do Caetano de fazer uma música livre, diferente do que o que tinha feito até então, mas acho o experimentalismo de Transa, por exemplo, bem mais criativo e agradável. Até o Caetano fala pouco do Araçá Azul, centrando-se mais em obras como Bicho e Muito. Desculpe se "drogado" soou preconceituoso, não foi essa a intenção, e sim mostrar que não tinha gostado da obra. Pode ter sido superficial mesmo, é que nessas análises de carreira eu tento fazer análises sucintas, mas pretendo depois expandir. Se é baseado no óbvio, não sei, mas tento passar com sinceridade o que cada obra me transmitiu. Acho que minha preferência por Cinema Transcendental não é nada óbvia, dado que esse disco não aparece nas listas de melhores da MPB (o que eu acho uma injustiça). Abraço.

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    2. Cadê a parte 2 dessa análise discográfica, hein? Só ficou nos 12 primeiros anos e esqueceu resto... assim não pode, assim não dá.

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    3. Concordo com Matheus: o disco ARAÇÁ AZUL é uma droga! Um experimentalismo muito louco! Não é preconceito. Ninguém entendeu a proposta do autor. E isso ficou patente quando bateu recorde de devolução. Não consigo ouvir muitas faixas.

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  2. Engraçado, vim parar aqui através do Google. Achei q fosse ler opiniões com algum 'embasamento' sobre a bela Obra (com O maiúsculo) de Caetano. Decepção pura!! Dá pra perceber que vc não conhece NADA da obra e não conhece NADA de música brasileira de qualidade!! Minha dica: leia mais, escute mais [coisas boas]... Hehehehe... Abraçaço!! ♪

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  3. Joia e Araçá Azul são discos excelentes. O primeiro mescla bem o experimentalismo com o popular. O segundo é um clássico da música experimental e tem a fantástica e poderosa De Cara/Quero Essa Mulher Assim Mesmo.

    Cinema transcendental é fantástico também. E o Transa é incomparável.

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  4. Vim aqui defender o autor do texto depois de tantos comentários odiosos. Cara, parabéns pela análise. Faltou o resto dos discos? Faltou. Mas, tudo bem. Obrigado por compartilhar conosco suas impressões. Sinta-se incentivado a continuar, apesar das críticas.

    Eu estudo a discografia do Caetano há algum tempo, e as suas visões sobre os álbuns são muito parecidas com as minhas. Você de fato conhece os discos, ao contrário do que as pessoas disseram aí. Um abraço!

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  5. Joia es como su nombre UNA JOYA, no me canso de escucharlo, creo con todo respeto que conoces poco del arte y poesía de Caetano, es algo tan extraordinario como TRANSA, a pesar de ser diferentes musicalidad. Ariel

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