Karma - Karma (1972)

Nota: texto escrito pelo meu amigo Malcom Fernandes.

É um disco raro, mas considerado um pioneiro do underground carioca. Lançado em 1972, o álbum trazia um trio que lançou uma pedrada de tons folk e psicodélicos. É como se os deuses tivessem concebido algo além da dimensão mutante que reinava na época. O trio se chamava Karma, e era liderado por Jorge Amiden, ex-O Terço, cantando e tocando uma TRITARRA (guitarra triple neck), Luiz Junior no violão e vocais e Alen Terra na guitarra e baixo. 

Bem, o disco não agradou a todos à época, mas se tornou um objeto de culto com o passar dos anos, sendo um dos discos mais difíceis de encontrar, e, se encontrado, o valor chega a mais de R$2.000. Foi relançado em 2010 por um projeto da Livraria Cultura em parceria com a Sony Music sob a curadoria de Charles Gavin.

Ele também figura em um livro importante, de 2016, escrito por Bento Araújo, da revista Poeira Zine, “Lindo Sonho Delirante: 100 Discos Psicodélicos do Brasil”, que merece estar na biblioteca de todo fã de música.

Jorge Amiden e sua "tritarra"
O lado A do disco já abre com um blues viajandão “Do Zero Adiante”, algo que parece encantador (os vocais e tudo), nem sei se dá pra falar tanto assim sobre o tema. Já “Blusa de Linho”, traz um arranjo incrível: tendo Gustavo Schöeter na bateria e Oberdan Magalhães na flauta, logo de cara. O hino verdadeiro deste disco é “Você Pode Ir Além”, considerado um mantra: “Aqui na terra é a passagem/E você é o personagem/Não perca tempo, leigo amigo/Pois você pode ir além daqui”, com um solo de guitarra arrepiante.

Já em “Epílogo”, não é de passar batido, mas a levada que chega a soar como introdução de música feita por uma banda de rock progressivo – meio que editada até – salva o momento mágico oferecido no lado A deste disco. E a primeira parte fecha com vocais em perfeita harmonia em “Tributo ao Sorriso”, tema originalmente lançada pelo O Terço dois anos antes, e que ganha um arranjo em peso, tendo Bill na bateria e Ian Guest no cravo.

O lado B apresenta para nós “O Jogo”, um folk bem viajante e meio tropicalista, tendo aqui a gaita do maestro Rildo Hora, e acaba sendo um tema de primeira aqui. Na sequência, já em “Omissão”, psicodelia pura com orquestrações de Arthur Verocai e uma onda bem enérgica nos arranjos, já mostra bem para que esses três vieram.

Ainda temos “Venha Pisar na Grama”, com uma levada meio country, que vale a pena: um rock rural puríssimo, até no título. Ainda temos a instrumental “Transe Uma”, que acaba nos mostrando uma peça-chave importante: a união dos três sons, fazendo com que eles alcancem o topo da montanha com o perfeccionismo delirante. O final fecha com “Cara e Coroa”, de um ambiente maravilhoso, e os vocais soam como se fossem anjos nos convidando a ver o céu de outros pontos de vista. Os falsetes de Amiden, Junior e Terra não decepcionaram a gente no final do disco.

Embora seja aquele disco que todo mundo procura ouvir, mas que não seja lá grande opção para os fãs de música brasileira, eu recomendaria e muito este trabalho pra quem acha que rock brasileiro dos anos 70 não era lá grande coisa (embora eles tenham se separado após o lançamento deste disco). E que Jorge Amiden tenha muito orgulho de que agora estão a reconhecer este baita clássico nas galáxias, como sentindo seu “Karma” mais poderoso do que nunca aonde ele estiver. Amiden faleceu em 2014, recluso e longe dos holofotes.

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