Chico Buarque - Meus Caros Amigos (1976)

Antes de mais nada, eu quero dizer que este disco e o posterior são os meus preferidos não só do artista, mas da música brasileira na sua totalidade. Dificilmente se consegue reunir tanta qualidade musical numa só obra, imaginem em duas. Bem, nesse álbum de 1976, o músico nos mostra um outro Chico. Até então, estávamos acostumados ao Buarque dos sambas no final dos anos 60 e o de Construção [A+], uma obra-prima um tanto melancólica. Agora, éramos apresentados a um artista versátil e genial, que assinava parcerias com Francis Hime e lançava músicas para peças e filmes.

Meus Caros Amigos reúne canções que  foram feitas de 1971 até 1976, uma época de censura e pouca liberdade musical. Abrindo a obra, temos "O Que Será (À Flor da Terra)", uma das versões da composição (existem outras duas). Até hoje essa canção continua na cabeça de muitos, tendo uma forte poética e melodia chamativa. "Mulheres de Atenas", em parceria com Augusto Boal, é a segunda faixa, que nos remete à Grécia antiga e diz em sua letra: "quando amadas se perfumam / se banham com leite, se arrumam / suas melenas".

"Olhos nos Olhos", também muito conhecida pela versão de Maria Bethânia, dá um tom mais romântico e pensativo ao álbum. Na sequência, "Você Vai Me Seguir", uma linda música que se parece com uma cantiga de roda, foi feita em parceria com Ruy Guerra. "Vai Trabalhar, Vagabundo", composta para um filme, é animada e diz: "prepara o teu documento / carimba o teu coração / não perde nem um momento / perde a razão".

"Corrente", de letra complexa e que pode ser cantada em qualquer ordem de versos (uma inovação de Chico), abre o lado B do LP. "A Noiva da Cidade", feita em parceria com Francis Hime, mantém o bom nível de qualidade do disco. "Passaredo", também com o toque de Hime, foi feita, segundo Buarque, junto a um livro de nomes de pássaros. A charmosa "Basta um Dia" fica bem tanto na versão original, quanto na interpretação de Bibi Ferreira.

E, pra fechar o álbum, temos "Meu Caro Amigo", mais uma vez com Francis, talvez a faixa mais conhecida do disco. Bem, dessa forma termina essa verdadeira obra de arte, fortemente recomendada aos leitores que ainda não a ouviram. Sinceramente, a MPB mainstream de hoje em dia não chega nem aos pés da dos anos 70, e constatar isso é muito fácil. Somente recorrendo ao underground da atualidade que encontramos artistas como Cícero e Tulipa Ruiz, que fazem um belo trabalho.


  • Avaliação: A+

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Discografia comentada: Chico Buarque

Discografia comentada: Caetano Veloso

Karma - Karma (1972)