Chico Buarque - Chico (2011)

Quebrando um hiato de cinco anos sem lançamentos, Chico Buarque retornou em grande estilo com este álbum. Olhando em retrospecto, essa obra se mostra mais criativa do que Carioca, de 2006. Nela, Chico deixou um pouco de lado a sua sempre complexa poética, em favor de uma linguagem mais simples e acessível.

Os arranjos também são superiores aos dos seus trabalhos anteriores. Instrumentos de sopro se fazem presentes na música de abertura, “Querido Diário” (por sinal, a mais bonita do disco). Em sua letra, o eu-lírico é solitário e flerta com religião, depois terminando por encontrar um amor.

O ritmo do disco é em geral lento, o que pode parecer um tanto enfadonho para alguns ouvintes. A minha dica é ouvir a obra sem pretensões, prestando atenção nos detalhes bem produzidos do álbum (como o coral em “Tipo um Baião”, uma clara homenagem a Luiz Gonzaga).

Um detalhe é que Chico, contrariando artistas como Bob Dylan e Paul McCartney, melhorou seu canto com o tempo. Nesta obra, está afinadíssimo e com uma voz agradável, o que torna o álbum ainda mais especial.

Um ponto alto do disco é a parceria com Ivan Lins em “Sou Eu”, uma canção de refrão cativante. “Só quem sabe dela sou eu / quem dança com ela sou eu / quem manda no samba sou eu”, diz sua letra. Uma surpresa melódica é “Sinhá”, que mais parece uma cantiga de roda, fechando o disco de forma excelente.

Mas vale a pena lembrar: estamos falando de Chico Buarque! Esse disco nem sequer atinge metade da qualidade de Construção, Meus Caros Amigos e do seu disco de 1978. Seria uma obra chamativa se viesse de um artista menos talentoso, como Carlinhos Vergueiro ou Toquinho. No portfólio do Chico, corre o risco de cair no esquecimento.

Também tem menos qualidade do que os últimos discos de seu amigo Caetano Veloso. Este se reinventa em cada trabalho, mostrando um misto de ousadia e experimentalismo. Abraçaço, seu álbum de 2012, tem qualidade parecida com as das suas obras dos anos 1970. O mesmo pode se dizer de Bob Dylan. Já Chico, usa da mesma fórmula desde Francisco, de 1987.

Porém, isso é o usual. Os últimos discos do Elton John também são de qualidade bem inferior aos dos tempos áureos. Chico perdeu um pouco seu talento, mas, como este era tanto, ficou sendo ainda um bom compositor.

“Rubato” parece “Valsinha” (música de 1971), só que em ritmo mais acelerado. O saxofone e trompete se fazem presentes nessa faixa. “Essa Pequena” é a letra mais básica do disco (que, como já disse, é de poética simples). O acompanhamento é bem feito e, quando o ouvinte está distraído, Chico vem com “take your time”, uma rara aparição anglófona em sua obra.

Outra característico do álbum é que ele é delicado e tem influências da bossa nova. Chico sempre disse que João Gilberto foi uma tremenda inspiração em sua carreira. Esse disco se parece bastante com o de estreia de João e também com Domingo, de Caetano Veloso e Gal Costa.

A bela voz de Thaís Gullin em “Se Eu Soubesse” merece registro. Esta é uma música um tanto até cômica, principalmente na parte “pom pom pom” e “larari larara”. Em “Sem Você Nº 2”, a letra conta como o sujeito está levando a vida depois de uma separação.

O piano inicial em “Nina” nos remete a Tom Jobim. Sua letra conta a história de uma mulher que se comunica com um homem, mas ainda não o conhece. “Nina anseia por me conhecer em breve / me levar para a noite em Moscou”, diz sua letra.

“Barafunda” é um sambinha pra cima, que traduz bem a proposta do disco: uma beleza simples, sem ser pretensiosa, que apresenta um Chico feliz e despreocupado.

Termino dizendo que vale a pena conferir esta obra. Se você for fã do artista, recomendo ainda mais a audição. É impossível não vir algo de qualidade do grande Chico, que sempre é cuidadoso em seus trabalhos. Nesse, mostra-se ainda em forma.

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