Legião Urbana - Legião Urbana (1985)

Voltando para 1985, temos o momento ideal para uma banda de rock ser lançada no Brasil. Nesse ano, a Legião Urbana lança o seu primeiro álbum, nomeado com o próprio nome do grupo. Com este trabalho, porém, não dá pra traçar um perfil de Renato Russo, que seria modelado principalmente pelas obras posteriores. Contando com uma produção um tanto rude, batidas de bateria que soam artificiais e, na última música, sintetizadores, modelam uma grande obra poética e melódica, expondo o talento então desconhecido do compositor.

Começando com "Será", uma música que virou o primeiro hit do quarteto, sendo amplamente difundida pelas rádios do Brasil, é simplesmente excelente. O ritmo é um pouco acelerado e começa com um riff de guitarra muito bem feito, seguido do vocal de Renato. A sua letra diz "quem é que vai nos proteger? / será que vamos ter de responder pelos erros a mais? / eu e você". Em seguida, temos "A Dança", um frenético tema que parece citar Belchior, dizendo que o jovem é igual a seus pais.

"Petróleo do Futuro" é outra canção de ritmo rápido e, tirando o título, é muito bonita. "Ah, seu eu soubesse lhe dizer o que eu sonhei ontem à noite / você ia querer me dizer tudo sobre o seu sonho também", diz Russo. E, enfim, chegamos à talvez mais linda música do álbum, a balada "Ainda é Cedo", que contém um riff inconfundível de Dado. A parte mais empolgante é o refrão, que repete a última palavra do título cinco vezes.

Confesso que conheci "Perdidos no Espaço" numa matéria do programa "A Liga", no qual um esquizofrênico dizia que a mensagem de sua letra era dirigida a ele. Realmente, ela parece ser feita para alguém de qual o compositor tinha alguma intimidade. Dentre as músicas do álbum, não se faz muito chamativa, mas é, digamos, decente.

"Geração Coca-Cola" retoma o álbum no seu alto nível. "Depois de vinte anos na escola / não é difícil aprender / todas as manhas do seu jogo sujo / não é assim que tem que ser", diz sua letra, um tanto irônica ao se referir aos jovens daquela época. "O Reggae", uma canção bem paralâmica, parece ser retirada de Selvagem? [A-]. Essa é a primeira canção do álbum que não é do estilo rock, ou única, se você considerar a última música um pop.

"Baader-Meinhof Blues", não necessariamente um blues, diz "andando nas ruas / pensei que podia ouvir / alguém me chamando / dizendo meu nome". Na minha opinião, a versão do Acústico MTV é superior à do álbum, que também é notável. "Soldados" tem um piano bem tocado e repete "quem é o inimigo, quem é você?".

A música seguinte, "Teorema", parece com as do lado A desse disco (ou, pros mais jovens, a primeira metade do CD). Novamente temos gritos de "ôôô" e "aaa", bem característicos dessa fase da banda. Finalmente, chegamos à última canção, "Por Enquanto", um clássico tanto na voz de Renato quanto na de Cássia Eller. Na letra, temos: "se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar / que tudo era pra sempre, sem saber / que o pra sempre, sempre acaba". Dessa forma, termina essa grande obra que é, com certeza, um dos melhores álbuns nacionais de 1985, ao lado de Nós Vamos Invadir Sua Praia [A], do Ultraje a Rigor.


  • Avaliação: A-

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