Caetano Veloso - Caetano Veloso (1969)

A música livre de Caetano foi se maturando desde o seu primeiro disco até que, em 1969, alcançou uma forma própria, que duraria até Transa, de 1972. A capa, simples e contendo apenas a assinatura do cantor, se faz um dos mais bonitos de sua carreira.

"Irene", a faixa de abertura, é linda e um tanto engraçada pelo modo como os versos se põem. "Quero ver Irene dar sua risada" é a frase que nela se repete e, aqui, vemos a diferença poética de Chico para Caetano. Enquanto um se apega a estrutura e letra extremamente bem feita, o outro vai por um caminho diferente, que é o caminho de Milton e Gil, colocando versos que, mesmo que não façam muito sentido, mas que são sonoros e musicalmente bonitos.

"The Empty Boat" é uma canção entediante e de climax. O inglês de Caetano é muito bom e isso o faz compor tanto na língua de Camões quanto na de Shakespeare. "Marinheiro Só" é uma música tradicional da Bahia que o cantor interpreta magistralmente, junto com os backing vocals femininos o acompanhando.

Em "Lost in the Paradise", segunda música em inglês do disco, Caetano lança complexos versos como "her big white plastic finger surrounds my dark green hair, but it's not your unknown right hand". Bem sonora, ela se faz um dos pontos altos do lado A.

Dando um toque mais animado ao álbum "Atrás do Trio Elétrico", uma gostosa marchinha que parece não ter fim (assim como "Pelas Tabelas", do Chico). A complexidade de arranjos do Duprat se faz presente em "Os Argonautas", uma canção Los Hermânica trinta anos antes da formação da banda. "Navegar é preciso, viver não é preciso" diz Caetano nela, parafraseando Fernando Pessoa. Lembremos que a intertextualidade é uma das marcas da obra do cantor.

"Carolina", uma versão de uma canção de Chico Buarque, é cantada com amor por Veloso. O compositor da canção, em uma entrevista, disse que não gostou da versão dele, pois Caetano teria cantado muito próximo do microfone, dando um efeito feio. Eu já acho que ele disse isso porque não gosta da canção em si, que foi feita às pressas para um festival.

"Cambalache", cantada em castelhano, glorifica Caetano como um cantor poliglota. Apesar de ter sido composta por Enrique Santos Discépolo, o artista dá tanto de si na interpretação que acaba virando uma música de sua autoria. "Não Identificado", segunda música de sua autoria preferida da mãe de Caetano, dona Canô, é uma balada excelente e tem versos emocionantes. Os arranjos do maestro, entre os quais uma guitarra, se fazem potentes nessa faixa.

Com "Chuvas de Verão", que começa com um leve assobio, o disco ganha um tom mais melancólico. É, sem dúvidas, uma canção sem sal, que não fede nem cheira, mas que está ali e faz parte da obra. "Acrílico", que se inicia com um desnecessário e dramático violino, é uma canção declamada, um rap sessentista. Dentre os arranjos, estão gelos sendo colocados num copo e até um peido do maestro Rogério Duprat, em protesto à censura.

"Alfômega", fazendo jus ao seu nome feio, fecha a obra de modo experimental e chato. Não é uma canção que eu voltaria a ouvir, mas deve ter quem goste. Assim como o álbum que revisei de Fagner (1976), a última canção é a pior da obra.

  • Avaliação: A-

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