Chico Buarque - Chico Buarque (1984)

Depois do projeto O Grande Circo Místico, Chico se concentra no seu novo álbum e, mais uma vez, o nomeia com seu próprio nome (esse ato era comum no Brasil antigamente). A primeira canção é excelente, "Pelas Tabelas", que contém os versos "ando com minha cabeça já pelas tabelas / Claro que ninguém se toca com minha aflição". Os versos são intermináveis e sempre se juntam com o posterior, na qual é, talvez, a melhor canção do álbum.

"Brejo da Cruz", criativa e cativante, mantém a boa qualidade da obra. O canto do artista parece ecoar, num efeito bem bolado pelo produtor do disco. A letra, um lamento acerca da pobreza humana, contando a história de meninos azuis de fome que, literalmente, se "alimentam" de luz. Em parceria com Dominguinhos, "Tantas Palavras" se faz presente, dando um clima mais leve e lento ao álbum. É bonita e muito bem arranjada, com uma sanfona (talvez do co-autor) e piano marcante.

A interessante "Mano a Mano" parece ser irmã da canção anterior, pelo menos no ritmo, de co-autoria de João Bosco. Se der sono em vocês, mantenham-se atentos pois vem coisa boa por aí. E a novidade é "Samba do Grande Amor", um clássico de Chico. Ela contém os memoráveis versos "hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito / Exijo respeito, não sou mais um sonhador".

Esse gol vai pra você, caro leitor!
A próxima faixa, "Como Se Fosse A Primavera", de Pablo Milanés e Nicolas Guillen, dá um aspecto mais animado ao álbum, sendo cantada junto com Pablo, revezando português e castelhano. "Suburbano Coração", merecedora de nota, pois se faz uma das canções mais conhecidas dessa fase de Chico, tem uma orquestração bem feita (lembrando músicas do Tom Jobim).

A charmosa "Mil Perdões" está para a obra como "Basta um Dia" está para Meus Caros Amigos. É uma canção que, mesmo sem estar entre as mais conhecidas/relevantes do disco, fazem-se bonitas e interessantes. Temos "As Cartas", com os versos "desfigurado / cavaleiro, o prateado / do outro lado do seu espelho / desfigurado", numa das letras mais nonsense de Chico.

Fechando a obra, "Vai Passar" se faz um clássico do compositor. Ela tem, no início, melodia bem parecida com "O Sol Nascerá", de Cartola. Quem nunca ouviu os versos "vai passar nessa avenida um samba popular / Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar"? Sim, "paralelepípedo". Se você cantava com outra letra, saiba que é essa a palavra usada na música. O tema é, do início ao fim, uma obra história sobre a ditadura, com diversas alusões à revolução francesa e outros acontecimentos. E, assim, termina esse disco, que se faz um dos melhores dessa fase oitentista de Chico.

  • Avaliação: B+

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