Legião Urbana - As Quatro Estações (1989)

Esse é o primeiro álbum do que considero as obras mais bem feitas da Legião: As Quatro Estações, V e O Descobrimento do Brasil. Datado de 1989, foi o primeiro disco sem a participação do baixista Renato Rocha (que hoje em dia é morador de rua). Seja por fatores monetários ou de afinidade, agora a banda era composta por três músicos: Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, transformando-se talvez no trio mais reconhecido do país.

Para início de conversa, o compositor principal estava mais maduro e realmente disposto a lançar álbuns bem trabalhados e cada vez melhores. Se o disco de estreia e Dois dividem músicas excelentes com outras sem sal e Que País É Esse conta com regravações da época do Aborto Elétrico, As Quatro Estações é feito por canções de letras memoráveis e melodias únicas.

Começando com "Há Tempos", um rock belo e com letra que faz jus à genialidade de Renato. Dela, destaco esse trecho:

Disseste que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira
Tal como "Índios", essa canção se reveza entre análises de casos gerais e específicos. Ao falar da tristeza de uma jovem, Renato cita os santos e a juventude como um todo. A próxima faixa, "Pais e Filhos", contém uma das frases mais reproduzidas da banda: "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há". Nela, o poeta narra a relação familiar, muitas vezes conturbada e cheia de altos e baixos, querendo, talvez, ajudar os jovens a melhor encarar não só isso, mas a vida.
"Feedback Song for a Dying Friend", contradizendo o conceito de Renato, que era contra músicos brasileiros fazerem músicas com letras em inglês, é uma faixa bem pesada, mas também bonita. Ela foi feita para Robert Mapplethorpe, um ex-fotógrafo americano. No final dela, dá para se ouvir arranjos arábes, talvez querendo imitar o ecletismo dos Beatles.

 "Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto", o lindíssimo tema que, certamente, é uma das melhores músicas do álbum, contém versos como "Porque esperar se podemos começar tudo de novo agora mesmo?". "Eu Era um Lobisomem Juvenil" repete "se você quiser alguém pra ser só seu, é só não se esquecer, eu estarei aqui" diversas vezes no final, com arranjos belos e que nos remetem a outra época.

Se iniciando com a bateria seguida de guitarra, "1965 (Duas Tribos)", com letra complexa e, muitas vezes, de caráter universal, faz-se importante e mantém a boa qualidade da obra. Enfim, chegamos à super conhecida "Monte Castelo", que diz "é só o amor, é só o amor, que conhece o que é verdade / o amor é bom, não quer o mal, não sente inveja ou se envaidece". Nela, Renato usa da intertextualidade e acaba por fazer uma masterpiece.

"Maurício" é uma boa canção. Não é excelente, mas bacana, sim. A batida de Bonfá acompanha um órgão e a voz de Renato, que repete "eu vi você voltar pra mim" numa dada altura da canção. "Meninos e Meninas", com seus versos "Eu gosto de meninos e meninas / Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre / vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente", expõe claramente a bissexualidade do cantor.

"Sete Cidades", a canção mais romântica do álbum, diz "Quando não estás aqui tenho medo de mim mesmo e sinto falta do teu corpo junto ao meu". Quando estiver brigado com seu amor e quiser reatar a relação, mande essa música, te garanto que vai funcionar. Ah, e essa faixa tem uma gaita bem gostosinha que dá um encanto a mais a ela. E, fechando a obra, temos "Se Fiquei Esperando o Meu Amor Passar", mais uma amorosa, que contém o pensamento "Quando se aprende a amar / o mundo passa a ser seu". No final, usa mais uma vez da intertextualidade, citando a fala religiosa "cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós".

  • Avaliação: A+

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