Cat Stevens - Tea for the Tillerman (1970)

Cat Stevens é um compositor fantástico. É uma pena que poucos sabem disso. Seu nome parece ser desconhecido pela maioria dos críticos de música, e apenas aparece ao grande público por pontuais sucessos, como "Father and Son" e "Wild World". Canções lindas como "How Can I Tell You" e "Lady D'Arbanville" nunca conseguiram alcançar tanta popularidade. Que injustiça!

Eu conheci esse grande artista quando meu pai, voltando de uma viagem, trouxe a compilação The Very Best of Cat Stevens. Na verdade, ele só tinha se ligado em uma ou outra música, e quem acabou se apaixonando mesmo por todas as faixas fui eu. Passei boa parte de 2007 ouvindo esse disco no meu iPod e hoje em dia ainda lembro perfeitamente de cada verso das músicas.

Só depois que fui conhecer o resto de seu trabalho, e me surpreendi. Até mesmo as músicas secundárias de seus álbuns têm algum valor, umas nuances interessantes. Antes de se converter ao islamismo e largar a carreira de músico, esse rapaz conseguiu fazer obras-primas em cada parte de sua carreira, algo bem difícil de se conseguir.

Cat começou a fazer um relativo sucesso na Inglaterra em 1967, quando lançou o álbum Matthew and Son, que continha músicas memoráveis, como a faixa-título, "I Love my Dog" e "Here Comes my Baby". No final do mesmo ano, lançou New Masters, um tanto inferior ao trabalho anterior, mas que continha a linda "The First Cut is the Deepest".

Mas a parte mais interessante de sua carreira só começaria em 1970, com o lançamento de Mona Bone Jakon, com suas canções folk e intimistas. Com a mesma fórmula, lançou seu quarto álbum, que é considerado o seu melhor e que é o tema desse post, Tea for the Tillerman.

O disco já abre de forma fenomenal, com "Where do the Children Play?". Animada, leve e cativante, diz em sua letra: "I know we've come a long way / we're changin' day to day / but tell me, where do the children play?". Eu li por aí que sua letra reflete a turbulência vivida no fim dos anos 60.

A misteriosa "Hard Headed Woman" chegou a ser a minha preferida do álbum por um tempo. O violão extremamente bem tocado dá um clima de ainda mais mistério à canção. Nela, Cat clama por uma mulher "pé no chão", que o aceite pelo que é. Ainda diz que, depois que achar ela, não vai precisar de mais ninguém. Que romântico, não? Acho que eu também gostaria de uma mulher assim.

"Wild World" fez bastante sucesso aqui no Brasil por conta de uma versão aí, mas eu acho a gravação original do Cat extremamente superior. Engraçado como ele abre a música repetindo "la, la, la", da mesma forma que Dylan abre "The Man in Me", canção do disco New Morning, também lançado em 1970. Será que um influenciou o outro? Na letra, Cat avisa a mina que estava o deixando que o mundo real é selvagem e bem difícil.

Em "Sad Lisa", o clima de mistério volta à tona. Abrindo com um solinho lindo de piano, logo Cat nos conta sobre uma moça chamada Lisa, que parece estar bem depressiva. Cat diz que ela pode confiar nele, que pode abrir seu coração. Diz que se ela realmente quiser ajuda, ele vai fazer de tudo pra que ela melhore.

"Into White" poderia ser facilmente assinada por Paul Simon, já que parece com as canções que ele lançou no seu álbum de 1972. Um violino em algumas partes da música dá um tom especial. E aqui se pode notar como o álbum é extremamente bem arranjado, para soar exatamente como Cat quer (intimista).

E, agora, chegamos à verdadeira signature song do Cat Stevens: "Father and Son". Posso lembrar claramente do meu pai treinando seu inglês tentando escrever o que Cat dizia na música, sem olhar para sua tradução na Internet. Lembro que ele acertou grande parte da letra. Nela, Cat faz uma análise muito bonita da relação de um pai e um filho, com o pai dando várias recomendações ao seu rapaz. Simplesmente tocante.

E, assim, termino esse texto, recomendando fortemente que você corra pro Spotify ou Deezer e ouça essa pérola do Cat Stevens. Grande abraço!

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