Wings - Venus and Mars (1975)


Paul McCartney, quando deixou os Beatles, em 1970, caiu em profunda depressão. Não sabia mais o que fazer, já que se sentia inseguro para continuar a carreira sozinho, sem seus companheiros de banda e o maestro George Martin. Passou então a beber bastante, deixar a barba crescer e ficar bastante recluso.

Quando recuperou um pouco as forças, começou a gravar canções simples e com poucos arranjos. Essas gravações resultaram no álbum McCartney, de 1970, que dividiu as opiniões dos críticos. Esse trabalho possuía fragmentos mal gravados, letras pouco complexas e parecia um trabalho de amador, que não combinava nada com a imagem que Paul havia passado nos anos anteriores: a de um músico extraordinário. É difícil acreditar que o compositor de "Eleanor Rigby" é o mesmo da boba "The Lovely Linda". Os críticos, então, se perguntavam: "onde está o velho Paul"?

Seus amigos haviam feito estreias impecáveis: tanto John com o reflexivo e sincero Plastic Ono Band, quanto George, com o magnífico All Things Must Pass. Até o Ringo, vamos combinar, com seu Sentimental Journey, alcançou alguma qualidade. Mas não Paul. Macca errou bastante ao apostar na simplicidade e acabou soando bobo, infantil.

Foi então que ele se uniu à esposa Linda e, em 1971, lançou o álbum bastante especial RAM. Mal recebido na época pela crítica e pelos ex-colegas de banda (John detestava o álbum), ganhou, ao longo dos anos, o respeito que merece. É um álbum excelente, do qual não se perde uma música.

Mas todos sabiam que sir Paul era capaz de mais. E eis que, em 1972, Paul descobre como resolver o problema de se sentir solitário no palco e nos trabalhos: formando uma nova banda. O nome? Wings. Simples, sonoro e moderno, combinando perfeitamente com o clima musical do início dos anos 70.

Com o amigo Denny Laine e sua esposa Linda, Paul lançou o mediano Wild Life. Novamente, críticas negativas tomaram conta dos jornais britânicos e americanos. Os críticos ainda perguntavam: "onde está o bom e velho Paul? O que aconteceu com o compositor sensacional de 'Yesterday', 'Hey Jude' e 'Let It Be'?". Ninguém parecia ter a resposta.

Em 1973, foi lançado o álbum Red Rose Speedway, que é uma excelente viagem romântica e com melodias bem criativas, ainda que com letras um tanto bobas, como a de "Little Lamb Dragonfly". Mas o reconhecimento da crítica só veio mesmo com o majestoso Band on the Run. Agora sim, podíamos dizer que o velho Paul havia voltado. Era realmente um trabalho de extrema qualidade, nos mínimos detalhes.

Então, agora bem recebidos pela crítica, em 1974 os Wings resolvem recrutar dois grandes músicos: o garoto prodígio Jimmy McCulloch e o excelente baterista Joe English. E, com esses dois membros, começam as gravações do álbum que é tema desse post, o sensacional Venus and Mars.

É interessante como esse álbum tem um feeling que não parece em nada com os trabalhos anteriores do Paul. Tem influências de blues e um clima mais pesado. Acho que isso se deve ao fato de o Jimmy McCulloch ter começado a contribuir nas músicas (apesar de não ser citado como compositor, é evidente que as partes de guitarra de músicas como "Rock Show" e "Letting Go" tiveram bastante influência de sua pessoa).

Jimmy McCulloch: o responsável pelo som "pesado" do álbum
Com uma campanha de marketing fortíssima, Venus and Mars foi um sucesso de crítica e público. Agora, Paul podia começar a desfrutar de uma carreira solo que viria a se tornar bem sólida e reconhecida mundo afora.

Agora, vamos aos comentários sobre as músicas. O álbum já abre de forma apoteótica, com a linda "Venus and Mars", que diz em sua letra "sitting in the stand of the sports arena / waiting for the show to begin". Parece que Paul, nos versos, já previa como iria ser o clima da sua bem-sucedida turnê com os Wings em 1976, e também de sua carreira solo pós-1980. Eu posso dizer que é uma experiência única (já assisti dois de seus shows, o primeiro em 2011 e o segundo em 2013). Enquanto sir Paul não aparece no palco, sempre dá aquele frio na barriga antes da apresentação começar.

A segunda música, "Rock Show", como já disse, parece ter uma grande contribuição do guitarrista Jimmy McCulloch no seu resultado final. Jimmy era excelente no blues e tocou em várias bandas no início dos anos 70. Ou seja, o cara tinha bagagem. E o resultado é uma música pesada e bem linda.

A balada "Love in Song" lembra o Paul de "Michelle". Canção perfeitinha, métrica e cativante. É bom pra se cantar pra namorada antes de dormir. Outro ponto alto do disco é "Letting Go", com suas guitarras caóticas e vocal impecável do Paul. Aliás, a passagem "like a lucifer she'll always shine" não tem nada a ver com satanismo, pois se refere ou a um lúcifer (segundo o dicionário, "aquele que traz a luz"), ou sobre um dos nomes do planeta Vênus (já que o álbum se chama Venus and Mars, sacaram?).

"Medicine Jar" é uma contribuição de peso do já citado nesse texto Jimmy McCulloch. É uma canção contra as drogas (assim como Wino Junko, do álbum seguinte), e muitos consideram o fato de ele ter morrido de uma overdose em 1979 bastante contraditório. Só que, segundo o que pesquisei, foi devido a altas doses de morfina e álcool (que não deixam de ser drogas, né? Só que não pesadas).

Muitos consideram a letra de "Listen to What the Man Said" bobinha, mas eu adoro ela. Na minha humilde opinião, é uma das melhores do álbum. O final dela emenda com "Treat Her Gently", uma canção de ritmo lento e melodia bem charmosa.

E, assim, acabamos essa review. Se eu recomendo o álbum? Com toda a certeza. Aliás, ouça ele várias vezes, pois acredito que uma só audição não vai lhe mostrar tudo que a obra tem a oferecer. É, com certeza, uma masterpiece de um dos maiores compositores de música popular.

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